O problema é antigo e parece estar longe de solução. De forma precária, cada vez mais pessoas estão “morando” sob as marquises dos equipamentos públicos existentes no complexo da Prefeitura na rua Taquari, onde fica inclusive a própria sede da Prefeitura Regional Mooca, além do Clube Escola, uma unidade básica de saúde, a biblioteca pública e uma escola de ensino fundamental. O grave problema social tem provocado a mudança de uso do espaço: enquanto a população em situação de rua aumenta nas alamedas do complexo, moradores da região têm deixado de frequentar o local.
Um dos equipamentos mais buscado como abrigo é a Biblioteca Pública Affonso Taunay. Além de se instalarem com seus pertences na parte externa sob as marquises, o interior do local passou a ser utilizado como espaço de convivência. Mesas e cadeiras voltadas para leitura e realização de pesquisas estão constantemente ocupadas, assim como os banheiros da unidade. O fato tem afastado antigos usuários da biblioteca inaugurada há mais de 60 anos.
Outro ponto transformado em um enorme albergue são os baixos da marquise da Unidade Básica de Saúde (UBS) Mooca I. Nesta semana a reportagem esteve no local e contabilizou mais de 10 pessoas ocupando o entorno do posto de saúde. Há pilhas de colchões, papelões e cobertores espalhados ao redor da UBS.
Alguns desses moradores em situação de rua que ocupam o espaço municipal na Mooca alegam que preferem ficar no interior do complexo por se sentirem mais seguros do que nas ruas.
Para a dona de casa Suely Almeida, que frequenta a unidade de saúde mensalmente, é triste deparar-se com a situação. “Ao mesmo tempo que há pessoas do bem, sem muitas oportunidades e destino, também existe usuários de drogas que acabam inibindo quem costuma frequentar este parque. Venho aqui porque já conheço e gosto do médico, senão já teria procurado outro lugar. Além de ser triste ver essas pessoas ao relento temos a sensação de insegurança. Não entendo como a Prefeitura deixa esta situação acontecer na sua própria casa”, comenta.
É comum encontrar em grupos de moradores da Mooca nas redes sociais reclamações de pessoas que se depararam com usuários de drogas ou até cenas de sexo em pleno dia. Também são frequentes as queixas de falta de segurança no espaço.
Há cerca de dois anos a base da Inspetoria Mooca da Guarda Civil Metropolitana foi transferida do complexo para a região do Tatuapé. Lideranças da região acreditam que este foi um dos motivos do aumento da população em situação de rua no espaço.
A inspetora da GCM Mooca, Guacira dos Anjos, afirmou à Folha que também acredita que a mudança da base contribuiu para o aumento do problema social, mas ela afirma que acontecem rondas diárias no complexo para garantir a ordem e a segurança dos equipamentos. “Infelizmente não temos efetivo suficiente para mantermos homens fixos no parque, mas estamos atentos”, garante. Durante as visitas da reportagem ao complexo ao longo desta semana nenhum guarda civil foi visto em ronda.
Questionada pela reportagem, a Secretaria das Prefeituras Regionais informou que, para tentar resolver o grave problema social, o Serviço Especializado de Abordagem Social da Mooca percorre o complexo diariamente nos períodos da manhã, tarde e noite. Foi ressaltado que o trabalho consiste na identificação, aproximação, escuta, orientação e encaminhamento à rede de proteção social (centros de acolhidas, núcleos de serviços, entre outros). O órgão acrescentou que a adesão é voluntária e nem todos aceitam o atendimento da equipe, recusando o cadastro e os encaminhamentos propostos.
A Prefeitura informou por fim que está em estudo, pela Secretaria Municipal de Esportes, uma ação de revitalização do complexo.
Como também ouviu queixas de furtos e roubo no espaço, a Folha pediu um levantamento à Polícia Militar, mas não obteve retorno.