Na madrugada de domingo, dia 31, movimentos em prol de moradia popular ocuparam diversos imóveis da cidade, entre prédios públicos e particulares. A intenção do grupo foi dar um recado ao prefeito eleito João Doria (PSDB), que chegou a afirmar em sua campanha eleitoral que não toleraria invasões como forma de forçar negociações por moradias. Um desses locais ocupados é um antigo e deteriorado imóvel localizado na rua Dias Leme, 320, Mooca. No passado, o espaço abrigou uma metalúrgica que prestava serviço à Prefeitura, mas, após decreto de falência, o prédio está vazio há mais de 20 anos. A vizinhança está preocupada com a situação.
Um aposentado que reside quase em frente ao local ocupado afirma que está bastante assustado. “Essas pessoas podem ter as melhores das intenções, mas não as conhecemos. Não sabemos o que pretendem. Isso nos deixa inseguros. Os vizinhos estão se reunindo e vamos procurar a Prefeitura para que tomem providências. O que está acontecendo é resultado da falta de ações dos órgãos responsáveis”, comenta o aposentado que, há cerca de 10 anos, por conta própria, construiu um muro de concreto na fachada do prédio para evitar invasões por usuários de droga e moradores em situação de rua.
Nesta semana a reportagem da Folha esteve no imóvel e conversou com os sem-teto que integram o Movimento por Moradia e Inclusão Social (MIS). De acordo com uma das líderes do grupo, que se identificou como Welita, cerca de 70 famílias ocuparam o local, representando em torno de 100 pessoas. “Temos conhecimento que este prédio tem uma dívida com a Prefeitura de mais de R$ 1 milhão. Iremos pleitear ao poder público para que assuma o espaço e o transforme em moradia popular. Não tem cabimento um lugar enorme como este estar vazio e milhares de pessoas estarem necessitando de um lar”, afirmou Welita que detalhou alguns planos para a área ocupada. “Estamos limpando todos os espaços e a ideia é fazer algo planejado e organizado, onde as famílias se sentirão bem. Vamos reformar o sistema elétrico e hidráulico e planejamos criar um espaço cultural em uma das áreas do prédio”, completou.
De acordo com a líder dos sem-teto, o grupo tentará dialogar com a vizinhança para ter uma convivência pacífica. “Somos pessoas do bem e trabalhadoras. Todos trabalham durante o dia de forma honesta. Não somos mal intencionados. Queremos apenas uma moradia digna”, finalizou.
A Folha entrou em contato com a Subprefeitura Mooca e questionou sobre possíveis providências em relação ao imóvel, mas não obteve retorno até o fechamento da edição. A Secretaria de Comunicação da Prefeitura também foi questionada sobre as dívidas do imóvel, mas se restringiu a informar que o prédio é particular e o acionamento da Justiça para uma ação de reintegração de posse deve partir do proprietário.
Prédio da padaria Amália
Outro imóvel na área da Subprefeitura Mooca em situação semelhante é o antigo prédio localizado na altura dos números 483/523 da avenida Vila Ema, esquina com a avenida Salim Farah Maluf, no Parque Sevilha, onde por muito tempo funcionou a Padaria Amália. Em maio o local foi tomado por um grupo de sem-teto, que, conforme informações, totalizava cerca de 200 famílias. Desde então, o prédio continua ocupado e alvo de reformas para adaptações de moradias.
Segundo informações da Secretaria Municipal de Finanças e Desenvolvimento Econômico, o imóvel possui 23 débitos inscritos em dívida ativa (IPTU e Taxa de Resíduos Sólidos Domiciliares) referentes aos exercícios de 1996 a 2015, totalizando o montante de R$ 3.948.965,70. A Prefeitura não esclareceu se o local tem processos em andamento e voltou a afirmar que sobre a ocupação, apenas o responsável legal pelo prédio pode ingressar com a ação de reintegração de posse na Justiça. A reportagem levantou que o prédio pertence a uma mulher, mas não conseguiu localizar a atual proprietária.