Passados 13 anos do trágico incêndio ocorrido na Comunidade Jacaraípe, em Vila Prudente, as cerca de 200 famílias que vivem espremidas nos barracos de madeira do alojamento provisório ainda aguardam atendimento em projeto habitacional definitivo por parte da Companhia Metropolitana de Habitação (COHAB). Enquanto o sonho da casa própria não chega, os moradores dos dois pavimentos do abrigo, construído pela Prefeitura, convivem com temor de nova tragédia. No complexo da Jacaraípe ainda residem outras 600 famílias em moradias de alvenaria.
Há um ano, as estruturas das seis caixas de água com 5 mil litros cada do alojamento começaram a apresentar sinais de deterioração, colocando em risco as moradias ao redor. Moradores improvisam medidas emergenciais. “Espalhei diversas escoras de madeira para evitar que despenquem, mas isso é provisório tal qual o alojamento”, relata o presidente da Associação dos Moradores, José Carlos de Araújo. “Por segurança controlo todo dia a entrada de água para não encher as caixas, pois as escoras não vão suportar o peso”.
A Defesa Civil, a Subprefeitura de Vila Prudente e a Sabesp estiveram no local. Os técnicos da concessionária de água, segundo Araújo, disseram que não há condições para instalar cavaletes nas caixas. Ainda de acordo com o presidente da Associação, para fazer os reparos nas caixas, a Subprefeitura alegou que é necessário retirar mais de 20 famílias do abrigo, mas para isso acenaram com a oferta do auxílio-aluguel, proposta rejeitada pela comunidade. “Com R$ 400 mensais quem consegue encontrar alguma moradia para locação na região ou em outro bairro?”, questiona o cabelereiro Antônio Soares.
Por recomendação da Subprefeitura, Araújo controla cada vez mais o nível de água nas caixas deixando-as bem abaixo da metade de suas capacidades, mas os moradores não estão livres de outros riscos como incêndios, devido a sobrecarga de energia elétrica. A Comunidade Jacaraípe é formada pela área municipal do alojamento e pelo chamado “campinho”, trecho particular perto da Avenida do Estado. “No início do ano passado, técnicos da AES Eletropaulo estiveram aqui, verificaram o problema, mas disseram que a parte da empresa é do painel para fora. Eles poderiam pelo menos instalar mais transformadores na rua para acabar com os pipocos”, comenta Araújo.
A falta de luz natural e de ventilação também causam preocupações adicionais. “Há riscos dos moradores e crianças contraírem doenças respiratórias e até mesmo tuberculose pelas precárias condições do abrigo”, comenta a agente comunitária de Saúde, Shirlei Soares.
Com todos esses e outros problemas, a Comunidade Jacaraípe não é tema de novela na TV Globo como Paraisópolis, no Morumbi, mas todos enfrentam o duro desafio de evitar no dia a dia que nova tragédia vá para as telas de jornalismo das tevês. “Estamos expostos a riscos e deveríamos também ter prioridade nos planos de habitação popular”, sugere Araújo. “Queremos saber em qual posição estamos na fila de atendimento?”, questiona.
Secretaria de Habitação não explica motivo da demora
Durante a visita do prefeito Fernando Haddad (PT) à Vila Prudente em abril passado, comissão de moradores levou ao seu conhecimento os problemas. O prefeito designou de imediato um assessor para vistoriar o local que repassou a questão para a Secretaria Municipal de Habitação e a Subprefeitura Vila Prudente.
A Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB) confirmou que ocorreu vistoria conjunta no local da Subprefeitura de Vila Prudente e da Sabesp e todos estão cientes que há risco de desabamento das caixas de abastecimento de água, cujas colunas estão “em grande processo de degradação”. Foi ressaltado que “encontra-se em andamento o processo que trata do assunto”.
Apesar de a reportagem esclarecer em e-mail que as famílias do alojamento foram cadastradas pela SEHAB na ocasião de incêndio, a Secretaria não justificou porque ainda não foram atendidas e recomendou que as famílias interessadas nos serviços oferecidos pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) como a inscrição no Cadastro Único para programas sociais do governo federal e o encaminhamento para Centros de Acolhida podem procurar o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Vila Prudente, na Praça Padre Damião, 102.
Por fim, a Secretaria informou que “na região de Vila Prudente há 2.368 unidades habitacionais com terreno garantido. Desse total, 1.420 moradias estão em andamento nos empreendimentos Atibaia I, II e III, e no In São Paulo. E outras 948 unidades com obras prestes a serem iniciadas em três conjuntos habitacionais: Jardim da Figueira Quadra A, Residencial Verdi e Residencial Bianco. Outras 12.168 famílias serão beneficiadas com 16 obras de urbanização e infraestrutura que ainda estão em fase de projeto. E mais 7.237 famílias que serão beneficiadas com a regularização fundiárias de suas unidades habitacionais ou títulos de propriedade em loteamentos antes irregulares”.