Foi cancelada hoje a audiência públicamarcada pela Prefeitura para discutir a adequação e a melhoria da rede cicloviária na região de Vila Prudente. O encontro estava agendado para acontecer amanhã à noite, 30 de junho, no auditório da Prefeitura Regional Vila Prudente. Não foi divulgado o motivo do adiamento e não há previsão de nova data.
A discussão com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) é uma promessa da nova gestão municipal por causa das diversas queixas na região sobre as ciclovias implantadas no governo passado. “O secretário (de Mobilidade e Transportes) Sergio Avelleda explicou que não dá para simplesmente apagar tudo o que foi feito, mas reconhece que em Vila Prudente foi onde a antiga gestão mais errou”, explica o prefeito regional de Vila Prudente, Jorge Farid.
O Movimento Muda Mooca, que defende a ampliação de áreas verdes na cidade e organizam mutirões de plantio de árvores na região, firmou parceria com a Prefeitura Regional Mooca na última sexta-feira, dia 23, para o projeto Árvore Delivery que consiste no cadastramento de moradores da região interessados em receber gratuitamente o plantio de árvore em frente de casa. Podem solicitar o serviço os residentes nos distritos de Água Rasa, Belém, Brás, Mooca, Pari e Tatuapé.
Todos os cadastros serão encaminhados à Prefeitura para uma análise sobre a viabilidade do plantio. Uma equipe técnica será enviada aos endereços cadastrados e realizará o plantio de uma árvore, seguindo todas as recomendações do Manual Técnico de Arborização Urbana, cabendo ao engenheiro responsável da Prefeitura a escolha da espécie ideal para o local.
Para se cadastrar a pessoa interessada deve acessar a página do Muda Mooca no Facebook através do link: www.facebook.com/mudamooca/?fref=ts e seguir a orientação destacada ou solicitar o serviço através do e-mail: arvoredelivery@gmail.com.
Moradores dos arredores e frequentadores da praça Professor Mario Bulcão, na Vila Califórnia, cobram mais atenção da Prefeitura para o espaço. De acordo com eles, o serviço de zeladoria é falho, pois há muita sujeira espalhada pela área e as árvores necessitam de poda. Outra reivindicação é a construção de uma quadra poliesportiva.
Segundo o morador Célio Salomão, no ano passado, após mobilização da comunidade, com a ajuda da vereadora Edir Sales (PSD), foi revitalizado o sistema de iluminação da praça, que também ganhou equipamentos de ginástica para idosos. “Mas isso não foi suficiente. As árvores precisam de poda, pois há galhos que bloqueiam o acesso aos brinquedos do playground, que também está em péssimo estado”, afirma.
Entre as reivindicações, a mais aguardada é a quadra poliesportiva. “Na praça há dois espaços onde ficam os brinquedos que quase não são utilizados. A quadra certamente seria mais útil. Fizemos abaixo assinado com quase 100 assinaturas demonstrando a vontade da comunidade, mas a Prefeitura não se manifesta”, diz Salomão.
A dona de casa Marcela Soares também tem queixas. “Todos os dias realizo minha caminhada na praça e encontro sujeira espalhada, troncos de árvores quebrados, passeio danificado e vários brinquedos das crianças estão podres. É um dos principais pontos do bairro e merece atenção”, comenta.
A Prefeitura Regional Vila Prudente informou que no ponto onde foi proposta a criação da quadra poliesportiva , constatou-se árvores que inviabilizam a construção, inclusive devido às suas raízes. Sobre o serviço de pode foi informado que ocorreu em novembro e dezembro do ano passado e não foi estipulado novo prazo. Acerca da limpeza, o serviço ocorreu em 16 de maio, segundo a Prefeitura Regional e novo serviço foi feito na quarta-feira, dia 28.
O problema é antigo e parece estar longe de solução. De forma precária, cada vez mais pessoas estão “morando” sob as marquises dos equipamentos públicos existentes no complexo da Prefeitura na rua Taquari, onde fica inclusive a própria sede da Prefeitura Regional Mooca, além do Clube Escola, uma unidade básica de saúde, a biblioteca pública e uma escola de ensino fundamental. O grave problema social tem provocado a mudança de uso do espaço: enquanto a população em situação de rua aumenta nas alamedas do complexo, moradores da região têm deixado de frequentar o local.
Um dos equipamentos mais buscado como abrigo é a Biblioteca Pública Affonso Taunay. Além de se instalarem com seus pertences na parte externa sob as marquises, o interior do local passou a ser utilizado como espaço de convivência. Mesas e cadeiras voltadas para leitura e realização de pesquisas estão constantemente ocupadas, assim como os banheiros da unidade. O fato tem afastado antigos usuários da biblioteca inaugurada há mais de 60 anos.
Outro ponto transformado em um enorme albergue são os baixos da marquise da Unidade Básica de Saúde (UBS) Mooca I. Nesta semana a reportagem esteve no local e contabilizou mais de 10 pessoas ocupando o entorno do posto de saúde. Há pilhas de colchões, papelões e cobertores espalhados ao redor da UBS.
Alguns desses moradores em situação de rua que ocupam o espaço municipal na Mooca alegam que preferem ficar no interior do complexo por se sentirem mais seguros do que nas ruas.
Para a dona de casa Suely Almeida, que frequenta a unidade de saúde mensalmente, é triste deparar-se com a situação. “Ao mesmo tempo que há pessoas do bem, sem muitas oportunidades e destino, também existe usuários de drogas que acabam inibindo quem costuma frequentar este parque. Venho aqui porque já conheço e gosto do médico, senão já teria procurado outro lugar. Além de ser triste ver essas pessoas ao relento temos a sensação de insegurança. Não entendo como a Prefeitura deixa esta situação acontecer na sua própria casa”, comenta.
É comum encontrar em grupos de moradores da Mooca nas redes sociais reclamações de pessoas que se depararam com usuários de drogas ou até cenas de sexo em pleno dia. Também são frequentes as queixas de falta de segurança no espaço.
Há cerca de dois anos a base da Inspetoria Mooca da Guarda Civil Metropolitana foi transferida do complexo para a região do Tatuapé. Lideranças da região acreditam que este foi um dos motivos do aumento da população em situação de rua no espaço.
A inspetora da GCM Mooca, Guacira dos Anjos, afirmou à Folha que também acredita que a mudança da base contribuiu para o aumento do problema social, mas ela afirma que acontecem rondas diárias no complexo para garantir a ordem e a segurança dos equipamentos. “Infelizmente não temos efetivo suficiente para mantermos homens fixos no parque, mas estamos atentos”, garante. Durante as visitas da reportagem ao complexo ao longo desta semana nenhum guarda civil foi visto em ronda.
Questionada pela reportagem, a Secretaria das Prefeituras Regionais informou que, para tentar resolver o grave problema social, o Serviço Especializado de Abordagem Social da Mooca percorre o complexo diariamente nos períodos da manhã, tarde e noite. Foi ressaltado que o trabalho consiste na identificação, aproximação, escuta, orientação e encaminhamento à rede de proteção social (centros de acolhidas, núcleos de serviços, entre outros). O órgão acrescentou que a adesão é voluntária e nem todos aceitam o atendimento da equipe, recusando o cadastro e os encaminhamentos propostos.
A Prefeitura informou por fim que está em estudo, pela Secretaria Municipal de Esportes, uma ação de revitalização do complexo.
Como também ouviu queixas de furtos e roubo no espaço, a Folha pediu um levantamento à Polícia Militar, mas não obteve retorno.
Acompanhado pelo vice Bruno Covas, o prefeito João Doria fez três visitas surpresas a serviços públicos no Jardim Guairacá, distrito do São Lucas, na tarde da última quarta-feira, dia 21. A iniciativa tem o objetivo de conhecer as demandas dos bairros e dos servidores que fazem o atendimento da população nos equipamentos públicos.
O primeiro local visitado foi o espaço integrado que conta com uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e a Assistência Médica Ambulatorial (AMA) Jardim Guairacá, onde o prefeito conheceu as dependências, e conversou com os gestores e pacientes que aguardavam o atendimento. Na unidade, o prefeito solicitou a relação completa dos medicamentos que estavam em falta para solicitar providencias junto à Secretaria Municipal da Saúde.
“Bom atendimento, uma boa disposição dos funcionários, mas tive uma surpresa desagradável: faltam medicamentos e o estoque da farmácia está em 70%. Não deveria ser inferior a 90%. Já liguei para o secretário da Saúde para fazer a reposição imediata”, disse o prefeito.
Na região, Doria também visitou o Centro de Educação Infantil (CEI) Jardim Guairacá, que atende crianças com idade entre 0 e 6 anos.
No último dia 15, a equipe de futebol de salão, categoria Sub-12, do Círculo de Trabalhadores Cristãos (CTC) de Vila Ema conquistou o bicampeonato da Copa da Juventude, que foi disputada por mais de 30 times de São Paulo e da região do ABC.
O segundo título consecutivo veio após a vitória de 4 a 1 sobre o R2 Futsal, no ginásio Noemia Assumpção, em Santo André. O time comandado pelo técnico Lelo Berenc disputou 15 jogos até alcançar o triunfo.
Para comemorar o título, o CTC-Vila Ema faz uma festa de premiação nesta sexta-feira, dia 23, a partir das 19h30, em sua sede, na rua Pinto da Luz, 705. Durante o evento, que terá animação de DJ, ocorrerão as entregas de medalhas, troféus e prêmios individuais. O valor da entrada é R$ 10 – atletas inscritos na competição não pagam.
Embora o cadastramento biométrico ainda seja facultativo na capital paulista, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) está incentivando os eleitores paulistanos a agendarem o atendimento para identificação biométrica nos cartórios eleitorais.
“Precisamos aumentar de forma significativa o número de eleitores com biometria, a fim de evitarmos um grande fluxo nos cartórios, quando o cadastramento se tornar obrigatório”, destaca o presidente do TRE, o desembargador Mário Devienne Ferraz. Dos quase 8 milhões de eleitores paulistanos, 32% possuem a biometria de acordo com o último balanço do TRE.
Atualmente, o cadastramento é obrigatório em 82 cidades do Estado e quem não atender ao chamamento da Justiça Eleitoral nesses locais terá o título cancelado.
Ferraz explica que “a grande vantagem da identificação biométrica é eliminar a única etapa do processo de votação que ainda possui um componente manual”. Segundo ele, o “que já é seguro e confiável, terá eliminada qualquer possibilidade de fraude no momento da identificação do eleitor”.
Inaugurado há 15 anos, o Hospital Estadual de Vila Alpina apresenta um grave erro estrutural, que inexplicavelmente foi acatado pela Prefeitura nesses anos todos. A calçada da unidade na rua José Jeraissati, além de ser estreita, acumula árvores, telefone público e postes de energia elétrica, que atrapalham o caminho dos próprios pacientes da unidade de saúde e demais pedestres e impossibilitam a passagem de cadeirantes e mães com carrinhos de bebês. Também pela falta de espaço no passeio, o ponto de ônibus existente no trecho não pode ter abrigo e as pessoas aguardam os coletivos sob sol ou chuva.
Em agosto de 2014, após a Folha realizar sucessivas reportagens cobrando providências e várias queixas de pedestres e pacientes, aconteceu uma reunião entre representantes da então Subprefeitura de Vila Prudente e do hospital com o objetivo de tentar um acordo que viabilizasse melhorias na calçada. Logo após o encontro, a assessoria de imprensa da Subprefeitura informou que a gerência do hospital tinha se proposto a recuar o muro do hospital em cerca de três metros, no trecho entre a entrada do pronto-socorro e o ponto de ônibus, permitindo assim que a São Paulo Transportes (SPTrans) colocasse um abrigo no local. Entretanto, passado quase três anos, a situação no local permanece inalterada.
Além da calçada estreita, a rua José Jeraissati tem apenas uma mão em cada sentido e fluxo intenso de veículos, inclusive de ônibus, sendo bastante perigoso para os pedestres transitarem pela rua para desviarem dos obstáculos da calçada. Após muita cobrança, a CET instalou semáforo e faixas para travessia há dois anos.
Questionada pela Folha, a Secretaria Estadual de Saúde informou na semana passada que a direção do hospital se reuniria com representantes do grupo técnico de edificações do órgão e da Prefeitura Regional para estudarem possíveis melhorias. Foi ressaltado que a estrutura física do hospital foi feita com base na legislação municipal e que eventuais necessidades relacionadas ao mobiliário urbano, como ponto de ônibus, postes e até mesmo árvores situadas no passeio publico estão sob responsabilidade da Prefeitura. A Secretaria, no entanto, não explicou porque a calçada do hospital foi construída tão estreita.
Nesta semana a reportagem cobrou novamente a Secretaria sobre a realização da reunião e o órgão afirmou que o encontro ainda não tem data prevista para ocorrer. Enquanto isso, pedestres continuam correndo risco em plena calçada de um hospital do Estado.
Desde o início do século XX, o fabril bairro da Mooca registrou protestos da classe operária. No livro “Histórias da Mooca”, do jornalista e escritor Mino Carta, consta que em 1907, tecelões de lã da fábrica Penteado entraram em greve reivindicando a redução da jornada de trabalho e a proibição do emprego de menores de 14 anos. Dez anos depois e ainda longe do Brasil consolidar uma legislação trabalhista, a situação dos trabalhadores das grandes indústrias era ainda mais extenuante e injusta. Foi assim que, há exatos 100 anos, no dia 9 de junho de 1917, um sábado, cerca de 400 operários, em sua maioria mulheres, da fábrica têxtil Cotonifício Crespi paralisaram as atividades pedindo menos horas de trabalho, que aquela altura avançava para o período noturno, e aumento salarial de 15 a 20%, entre outras questões. Julgado como um ato corriqueiro de início, tanto que a imprensa da época não deu atenção imediata à greve no grande Cotonifício; o movimento ganhou adesão com o passar dos dias e acabou considerado o percursor da primeira Greve Geral do Brasil que eclodiu no mês seguinte.
Além da ausência de leis trabalhistas que impedissem o abuso por parte dos patrões, outros fatores históricos tiveram papel decisivo para a enorme reação operária de 1917. Com a primeira Grande Guerra (1914 – 1918) em andamento na Europa, o Brasil passou a exportar seus produtos manufaturados, ao mesmo tempo em que tinha dificuldade para importar maquinários para as fábricas aumentarem as produções. Assim, para não perder o momento e garantir os lucros, a alternativa foi fazer as máquinas funcionarem por mais tempo e os industriais passaram a exigir jornada estendida, de 16 horas por dia, incluindo sábados, sem aumento salarial. Em recente entrevista ao jornal BBC Brasil, o historiador italiano radicado no Brasil, Luigi Biondi, da Unifesp, conta que “em 1914, o Cotonifício Crespi lucrou 196 contos de réis. No ano seguinte, o lucro foi de 350 contos de réis. E foi aumentando. Enquanto isso, aumentavam as horas de trabalho”.
Com os produtos nacionais sendo levados mundo afora, houve repentina subida dos preços no Brasil e forte perda do poder aquisitivo foi outro fator que revoltou principalmente as operárias que, já naquela época, controlavam os gastos da família. Historiadores citam ainda questões como assédio sexual de mulheres e atos de violência contra menores dentro das fábricas como propulsores coadjuvantes de protestos. Também em entrevista ao BBC Brasil, o historiador Claudio Batalha, da Unicamp, explica que, apesar de menos comentado nos livros de história, a revolta das funcionárias do Cotonifício Crespi também estava relaciona ao abuso dos chamados contramestres e ressalta que greves anteriores já haviam começado por esse motivo. Em seu livro, Mino Carta expõe que “em 1917, meninos operários de uma fábrica na Mooca queixavam-se de espancamentos com inspetores do trabalho e exibiam ferimentos”. Não deixa claro em qual indústria ocorria, mas, o fato é que, naquele momento, sobravam motivos para o movimento grevista conquistar o apoio de outros trabalhadores, mesmo que por solidariedade. Na época também estavam amparados pela recém criada Liga Operária da Mooca (leia mais abaixo).
No fim de junho os demais funcionários do Cotonifício também resolveram cruzar os braços, chegando a cerca de 1.500 trabalhadores parados. Logo em seguida, teve início a greve na grande fábrica têxtil Ipiranga de, Nami Jafet, envolvendo mais de 1.600 operários que pediam aumentos em torno de 20% e, em caso de trabalho noturno, de 25%, segundo registro no Atlas Histórico da Fundação Getúlio Vargas. Nos dias posteriores começaram as paralisações nas fábricas de móveis, quase todas situadas no Brás, e no início de julho foi a vez da Cia. Antarctica Paulista entrar no protesto. Portanto, na primeira semana de julho de 1917, as duas fábricas mais importantes da Mooca, o Crespi e a Antarctica, estavam paradas.
A partir daí a greve se alastrou rapidamente, parou São Paulo e havia tentativas de saques aos moinhos que produziam farinha por causa da crise de abastecimento que se instalou, além de ataques a carros de transportes do produto. A primeira medida para frear o movimento foi através da força, dando início aos embates entre grevistas e a polícia. Ocorreram mortes nesses confrontos e o protesto ganhou ainda mais fôlego em 11 de julho, quando uma multidão acompanhou o enterro do sapateiro espanhol José Martinez, de 21 anos, morto com um tiro depois que a unidade de cavalaria da polícia dispersou manifestantes diante da Antarctica, segundo noticiou O Estado de S.Paulo na época. Em registros históricos, Martinez era apontado como um militante anarquista.
Em meio ao movimento, em 9 de julho, foi criado o Comitê de Defesa Proletária e curiosamente, também foi constituída uma comissão com diretores dos grandes jornais paulistas que funcionou como intermediária entre representantes empresariais e os grevistas, que a essa altura, além dos direitos trabalhistas, pediam também a libertação dos militantes e operários presos nas manifestações.
Somente na metade de julho, mais de um mês depois do início da greve no Cotonifício Crespi e com os industriais percebendo que a situação estava fora de controle, um acordo selou o fim da greve em São Paulo atendendo as principais reivindicações. Mesmo assim, algumas categorias ainda resolvem parar depois, como foi o caso dos pedreiros. Por não se tratar de uma lei, alguns patrões ainda resistiam em atender as normas do acordo. Enquanto isso, principalmente nos estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul os movimentos operários continuaram. Segundo historiadores, não existe uma data certa para o fim da greve geral de 1917, pois assim como adesão foi acontecendo aos poucos, o ritmo de saída também foi gradual. A situação se normalizou apenas no fim de julho. Mesmo com o grande ato nacional, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi sancionada somente em 1943 no regime do presidente Getúlio Vargas. (Kátia Leite)
Em uma avaliação da greve de 1917, o historiador italiano Luigi Biondi levanta o debate sobre o surgimento do movimento: espontaneísmo dos operários ou organização? De acordo com ele, “os anos de enfraquecimento, quase de aniquilação, das organizações classistas em São Paulo que precederam a greve levam a considerar que o movimento de 1917 surgiu espontaneamente”. Mas, na mesma análise, Biondi destaca que “por outro lado, é correto afirmar que os processos de organização sindical já estavam encaminhados havia algum tempo quando explodiram as greves de junho na Crespi e na Antarctica, prólogo dos eventos de julho: a declaração de greve na Crespi, por exemplo, foi decidida depois de uma reunião na Liga Operária da Mooca e por ela foi coordenada”.
Conforme registros históricos, em maio de 1917 foram fundadas as ligas operárias da Mooca e do Belenzinho, após anos de quase ausência de organizações operárias. Várias mulheres do Cotonifício Crespi se afiliaram no mesmo mês na Liga da Mooca.
Outro ponto importante defendido por historiados era a nova configuração étnica da mão de obra paulistana, composta em sua maioria por estrangeiros. No Cotonifício Crespi, por exemplo, cerca de 75% dos operários eram imigrantes italianos, segundo dados do Atlas Histórico da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
E esses imigrantes traziam novas ideologias ao país, como o anarquismo e socialismo. É importante lembrar ainda que em fevereiro do mesmo ano, ocorreu a Revolução Russa também iniciada por mulheres que trabalhavam na indústria têxtil e paralisaram as atividades em protesto contra a escassez de alimentos no país e logo ganharam a adesão de outros trabalhadores, a exemplo do que ocorreu no Brasil.
A jornalista, moradora e estudiosa da história da Mooca, Elizabeth Florido, acredita que foi um período em que as pessoas se organizaram em busca de melhoria da qualidade de vida. “O que foi, num primeiro momento, um levante das tecelãs na fábrica dos Crespi, para diminuir a dura jornada de trabalho, que incluía colocar as crianças para trabalhar também, tornou-se um movimento de jornalistas, pensadores e intelectuais da época para o que ficou conhecido como ‘consciência de classe’”, ressalta. “Não mais uma pequena peça de uma engrenagem maior, mas pessoas capazes de decidir pelos rumos de sua próprias vidas, era o cenário almejado por todos durante o movimento social que ganhou as páginas dos principais jornais da chamada imprensa imigrante e panfletária: O Anarquista, A Plebe, La Fanfulla, só para citar alguns, e nomes como o de Edgar Leuenroth, jornalista e tipógrafo que fazia do seu percurso entre o Brás, onde morava, e a Mooca, lugar onde as coisas ‘ferviam’, seu campo de um ideário comum, o de um país melhor para se viver, a começar por São Paulo”, completa Elizabeth Florido.
“O que faz com que uma greve funcione é que os participantes sintam que aquele estado de coisas chegou ao limite. Uma das características importantes de 1917 é que, pela primeira vez, setores que não participavam desse tipo de movimento começaram a participar”, destaca o morador da Mooca e escritor Euclydes Barbulho, autor de oito livros, entre ele “Mooca – 450 anos. Passando pelo Túnel do Tempo”.
A greve de 1917 será o tema central do II Encontro Histórico-Cultural que acontece em agosto na Mooca, por ocasião do aniversário do bairro. O evento, organizado pela Associação Comercial de São Paulo – Distrital Mooca, em parceria com a Unicapital/Uniesp, será no Teatro Municipal Arthur Azevedo. (Kátia Leite)