Sem alvoroço, divulgação e cerimônia midiática de inauguração, a Prefeitura de São Paulo instalou há cerca de dois meses um Centro Temporário de Acolhimento (CTA) para moradores em situação de rua em um antigo prédio comercial de sete andares na rua da Mooca, 418, em frente a tradicional escola estadual Professor Antônio Firmino de Proença. Atualmente 120 homens utilizam o espaço, que, segundo os frequentadores, tem capacidade para atender 250 pessoas. A iniciativa do governo municipal causou polêmica entre os vizinhos do imóvel. Um grupo de moradores das proximidades criou um abaixo assinado para a remoção do abrigo do local.
“Sem consulta e comunicação nenhuma começamos a nos deparar com homens descarregando beliches no prédio, que permaneceu fechado por muitos anos. Aos poucos começamos a ver a chegada de vários outros equipamentos e produtos, principalmente à noite. De repente instalaram a placa na fachada indicando um Centro de Acolhimento. A Prefeitura agiu na surdina para os vizinhos não perceberem. Isso foi um desrespeito”, contou o morador da Travessa Alta Floresta que se identificou como Wilson.
Segundo alguns vizinhos, o prédio não possui condição para servir de abrigo. “Esse imóvel ficou fechado durante mais de 10 anos e certamente possui problemas estruturais. As pessoas que estão utilizando o serviço não estão seguras. O local não possui Habite-se, não tem saída de emergência em um eventual caso de incêndio, não tem alvará do Corpo de Bombeiros e há pouquíssimos banheiros para atender toda a demanda, o que é desumano. Como a Prefeitura é capaz de adaptar este imóvel para acolher pessoas?”, questionou uma vizinha que não quis revelar o nome.
Outra preocupação dos moradores das proximidades é com as consequências de um Centro de Acolhimento em meio às residências. “Por enquanto tivemos apenas pequenos problemas, como acúmulo de sujeira nas calçadas, principalmente restos de marmitex, aglomeração de pessoas no final do dia e a falta de cortinas nas janelas faz com que os homens fiquem expostos ao tomarem banho e se trocarem. Mas, com o aumento do número de frequentadores, a situação pode piorar”, completou Wilson, afirmando que há anos a comunidade local solicita a construção de um posto de saúde na região, a qual possui várias escolas e entidades sociais que atendem crianças carentes, mas o pedido nunca foi concretizado.
Os atendidos
A reportagem da Folha conversou com alguns homens atendidos pelo Centro de Acolhimento, os quais elogiaram a iniciativa da Prefeitura. “Há dois meses, quando abriu este abrigo aqui na Mooca, fui transferido da região da estação da Luz. Foi a melhor coisa que aconteceu. Trabalho durante o dia e no final da tarde tenho para onde ir. Está tudo novinho e a promessa é que em breve começarão algumas oficinas, como a de informática, o que irá nos ajudar bastante e o serviço passará a funcionar 24h. Por enquanto o prédio está atendendo apenas metade da capacidade e não é qualquer um que chega e pode entrar. É preciso cumprir algumas exigências da Prefeitura e estar cadastrado no programa municipal”, contou o gari Paulo Sergio Rosa, que contou estar na rua há cerca de cinco anos. “Sou um ex-dependente químico e só consegui me salvar graças ao serviço oferecido pela Prefeitura. Fiquei internado por cerca de oito meses, realizei alguns cursos e hoje tenho um emprego de Gari. Estou em fase de treinamento para começar a prestar serviço à cidade”, concluiu com orgulho e esperançoso.
Questionada, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social informou que a primeira etapa do projeto do CTA foi inaugurada no mês de junho e as próximas etapas devem ser finalizadas até o final do mês de agosto. Foi esclarecido que o imóvel foi cedido para a secretaria e o serviço no local oferece 250 vagas para pernoite, além de refeições, banho e oficinas. O órgão acrescentou ainda que a organização social que gerencia o CTA tem mediado uma série de diálogos com a comunidade vizinha. Sobre as condições estruturais e segurança do prédio, a secretaria não se manifestou.