Fechado para obras de restauro estrutural desde janeiro, o Memorial do Imigrante estará desfalcado de uma de suas principais atrações quando reabrir os portões. O bonde prefixo 38, de quase 100 anos de história no estado paulista, não fará mais o trajeto entre o Memorial e a estação Bresser-Mooca do Metrô, pequeno trecho de cerca de 500 metros, mas que era marcado por muita nostalgia para quem conheceu a fase dos bondes na cidade e de novidade para aqueles que só ouviram falar do transporte nas aulas de História. O bonde, que mantinha os bancos originais de 1912, de quando veio da Escócia, voltou para a cidade de Santos, onde circulou até 1971.
A Secretaria de Estado da Cultura informou que o bonde pertence à Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) e a entidade decidiu em fevereiro, transferir o equipamento para Santos. A Secretaria alega que “concordou com a decisão por considerar que a melhor forma de manter um patrimônio seja por meio de sua utilização”. Após passar por restauração, o bonde voltará a circular nos itinerários turísticos da cidade santista em parceria com a Prefeitura.
A Secretaria informou também que devido a uma mudança no sentido da rua, implantada pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a retomada da circulação de um bonde em frente ao Memorial fica inviabilizada. Está sendo estudada a possibilidade de utilizar um bonde como elemento cenográfico quando o espaço for reaberto no ano que vem.
De celebridade ao abandono
O bonde estava desde 1998 na calçada em frente ao Memorial do Imigrante, na rua Visconde de Parnaíba. Foi o ano em que o prédio da antiga hospedaria – que de 1.882 a 1.978 abrigou mais de 2,5 milhões de imigrantes que chegaram ao estado paulista -passou do status de Museu a Memorial. A inauguração, no dia 5 de abril, um domingo, contou com a presença do então governador Mário Covas que depois de assinar o decreto instituindo oficialmente o complexo histórico, deixou o evento no bonde. A partir daquele domingo festivo, o transporte com capacidade para 42 passageiros sentados, se tornou um dos principais atrativos da região.
Mas, o desfecho da história do bonde 38 na Mooca não foi digno das pompas da inauguração. Com o Memorial já fechado, o carro enfrentou sucessivos alagamentos na rua Visconde de Parnaíba e poucas semanas antes de ser transferido para Santos, servia de dormitório para moradores de rua, conforme a Folha flagrou e mostrou na edição de 11 de fevereiro. Na ocasião, a reportagem cobrou a Secretaria de Cultura que preferiu o silêncio. Quatro dias antes do bonde deixar a Mooca, o secretário Andréa Matarrazo apresentou pessoalmente o projeto do novo Memorial do Imigrante, em um evento na Secretaria, e em nenhum momento mencionou a perda do bonde, que aquela altura já era um fato consumado. Por isso, após a reabertura do espaço, vai ter muita gente com saudades do velho Memorial e seu bonde histórico.
A história do bonde elétrico em São Paulo