A reunião que se estendeu por quase quatro horas na noite da segunda-feira, dia 21, com o salão do Círculo de Vila Prudente lotado, terminou com pedidos de mais audiências para discutir a proposta de Operação Urbana para faixas da Mooca, Vila Prudente, Ipiranga, Cambuci e Vila Carioca que margeiam o rio Tamanduateí. A exemplo do ocorrido na audiência da semana passada na Mooca, surgiram questionamentos acerca do adensamento proposto pela Prefeitura, que visa mais que dobrar o número de habitantes nessa região. Lideranças de movimentos de moradias, que comparecem em peso, também acreditam que acabarão perdendo espaço para os empreendimentos de luxo que são os grandes objetivos das construtoras. O público presente deixou claro que a equipe do governo ainda precisa fazer ajustes no projeto antes de enviar para votação na Câmara Municipal.
A Operação Urbana Consorciada visa basicamente aproximar o trabalho da moradia, provocando intenso adensamento da área envolvida. Paralelo ao adensamento existe a promessa, no papel, de uma série de investimentos, como a criação de novas áreas verdes que também terão a função de minimizar as inundações na região, mais equipamentos públicos, melhoria da mobilidade urbana e aumento da oferta de cultura e lazer. A previsão de duração, entre o início e o término do programa, é de 30 anos. A Prefeitura pretende custear essas melhorias pela venda ao mercado imobiliário de R$ 5,5 bilhões em créditos para construir além dos limites básicos previstos em lei.
O grande temor da população é que aconteça o adensamento desenfreado e as medidas complementares não ocorram na mesma proporção. O diretor de desenvolvimento da SP Urbanismo, Gustavo Partezani, que fez a apresentação, foi mais uma vez questionado sobre a redução de 28% para 15% da arrecadação do projeto para investimento em equipamentos sociais, como creches, escolas e postos de saúde. A resposta foi a mesma da audiência da Mooca: como nas discussões anteriores a população insistiu na questão das áreas verdes, houve o reajuste da meta de investimento. “O dinheiro é finito. Temos que tirar de um lado para aumentar em outro”, justificou.
Apesar do projeto ressaltar a existência das chamadas ilhas de calor na região – que tem temperatura mais elevada em relação ao restante da cidade por causa da escassez de áreas verdes, o diretor da SP Urbanismo continua defendendo que apenas “meio parque” é suficiente para amenizar o problema na região da Mooca e Vila Prudente. A Operação Urbana prevê que do total da área de 100 mil m² na rua Barão de Monte Santo, que no passado serviu de depósito de combustíveis da Esso e foi contaminada, apenas metade será destinada ao verde. Ainda segundo o projeto, o espaço será cortado por duas novas ruas e o restante será destinado à construção. As demais áreas verdes prometidas no projeto estão prioritariamente no Ipiranga e Cambuci e ao longo da margem do Tamanduateí.
O arquiteto e morador do Ipiranga, Arlindo Amaro dos Santos, levantou a questão da mobilidade. “As duas principais ligações entre as áreas afetadas são os viadutos Pacheco e Chaves e Grande São Paulo que já estão saturados”, destacou. Ele acredita que as requalificações do viário que constam no projeto não serão suficientes para amenizar o problema de trânsito.
A proposta de transporte público da Prefeitura está centrada na rede sobre trilhos do Estado – cujas novas estações vêm sofrendo sucessivos atrasos de entrega. Ao longo da exposição foram citadas diversas vezes as estações da Linha 2 – Verde. A Folha questionou se a Operação Urbana vai agir em parceria com o Estado para ampliar a oferta de metrô, caso contrário a Linha Verde corre o risco de virar uma nova Linha Vermelha – a mais saturada do Metrô de São Paulo. Partezani respondeu que não haverá repasse e que “o Governo que faça a sua parte e nós fazemos a nossa”. Ele defendeu ainda que o adensamento só é ruim se for mal planejado e acredita que a região tem potencial para virar uma nova Santa Cecília, bairro da região central da cidade.
O único vereador presente na audiência, Toninho Vespoli (PSOL), afirmou que está muito preocupado com essa Operação Urbana e acredita que terá impacto negativo na região, assim como a Lei de Zoneamento que pretende adensar o eixo da avenida Anhaia Mello.