Vila Prudente: um resumo desses 130 anos

Foram quatro italianos natos – os irmãos Bernardino, Panfílio e Emídio Falchi e o financista Serafim Corso – que fundaram a Vila Prudente no dia 4 de outubro de 1890. A data foi escolhida por ser o dia de nascimento do patronímico do bairro, o governador de São Paulo, Prudente José de Morais Barros, que depois se tornaria presidente da República. As terras que compunham o novo bairro tinham somente 1,2 milhões de m².

Para atrair moradores, os Falchi montaram a sua fábrica de chocolates no bairro e pouco depois uma olaria, que com o tempo passou a se chamar Cerâmica Vila Prudente (foto).

Naquela época, a ligação de transporte mais próxima do bairro era a estrada de ferro que passava no Ipiranga, distante 1,5 km do centro de Vila Prudente. Só em 1912 chegou a primeira linha de bondes com seu trajeto passando pela rua Capitão Pacheco e Chaves em direção ao Centro. A avenida Paes de Barros ligando Vila Prudente à Mooca só ficou pronta em 1978.

Ainda sobre os transportes, a primeira linha de ônibus a cruzar o bairro foi da Empresa de Ônibus Vila Zelina em 1935. Os ônibus eletrônicos começaram a circular na Vila Prudente a partir de 1978. Mas, o grande marco foi a inauguração da estação Vila Prudente do Metrô em 21 de agosto de 2010, completando uma década de operação neste ano. O benefício da estação para o bairro pode ser medido em minutos: com os trens do Metrô o percurso entre a Vila Prudente e a avenida Paulista é percorrido em menos de 20 minutos. Também pode ser medido em usuários: no ano passado, recebeu diariamente cerca de 67 mil passageiros. Em 2019, 8,8 milhões de pessoas adentraram pelas suas catracas.

Mais história

No início do século 20, os Falchi construíram uma capela com o nome do santo de devoção da família: Santo Emídio, protetor de terremotos e catástrofes na Itália. Tornou-se o padroeiro de Vila Prudente. A primeira paróquia, também em louvor ao santo, foi implantada no bairro somente em 1939, com a chegada dos padres holandeses da Congregação dos Sagrados Corações. Dentre esses religiosos estava o padre Damião Kleverkamp, que fundou o Círculo de Trabalhadores de Vila Prudente e o Colégio João XXIII, que no início chama-se Escola do Círculo Operário.

A fábrica pioneira ficou no bairro até o começo do século 20. Depois, o mesmo prédio recebeu a Manufatura de Chapéus Oriente. Outros destaques fabris foram a Indústria de Louças Zappi, implantada em 1917, e fábrica de papel e papelão de 1924.

Os irmãos Falchi também montaram a primeira escola do bairro, dentro da própria fábrica. Em 1902 começou a funcionar a Escola Mista de Vila Prudente. O Estado só se fez presente em 1932 com a criação do Grupo Escolar Vila Prudente, hoje chamado de República do Paraguai, instalada na Praça do Centenário.

Um cálculo retroativo dá conta que Vila Prudente entrou no século 20 com meros 1200 habitantes, quase todos de origem ou descendentes de europeus. Hoje é um bairro cosmopolita. Ganhou autonomia administrativa em 1923, pois até então era subordinada ao Ipiranga. Em 1973 foi criada a Administração Regional Vila Prudente – atual Subprefeitura, que responde por área de 19,80 km² do município de São Paulo. De acordo com o Censo 2010 (a atualização a cada dez anos foi adiada para 2021 por causa da pandemia), a população de Vila Prudente ultrapassa 104 mil habitantes.

Vila Prudente 130 anos: tradicional celebração


Há 30 anos consecutivos a comunidade se reúne na praça do Centenário de Vila Prudente para comemorar o 4 de outubro, data oficial de fundação do bairro. Neste ano, diante da pandemia, o evento não contou com todos os ritos das edições anteriores, teve número reduzido de convidados, mas cumpriu o seu papel de celebrar o presente e o passado, recordando principalmente a importância das famílias pioneiras de Vila Prudente.

O ato é promovido pelo Círculo de Trabalhadores de Vila Prudente. Abrindo a cerimônia, o presidente da entidade e da Folha, Newton Zadra, agradeceu o esforço dos funcionários do Círculo e também da equipe da Subprefeitura para garantir a cerimônia. Zadra lembrou que o bairro vem sofrendo uma transformação avassaladora. “Apesar do desenvolvimento, sempre bem vindo, também existe o medo. Com os grandes empreendimentos, Vila Prudente vai ganhando novos moradores que usam o bairro apenas como dormitório, graças à proximidade com o Centro e a grande oferta de transportes, mas, com isso, vamos perdendo a sensação de pertencimento. Não existe mais aquele grande interesse de lutar pelas causas do bairro, como aconteceu com as gerações anteriores. Temos que ter a união de todos para não deixar esse sentimento acabar”, pediu.

A cerimônia contou com a presença do subprefeito de Vila Prudente, Caio Luz, e dos vereadores Claudio Fonseca, Edir Sales e Juliana Cardoso, além do ex-deputado Adriano Diogo, autoridades da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana e diversas lideranças locais.  Durante suas palavras, todos manifestaram solidariedade à família Zadra pelo falecimento de Esmeralda Zadra no último dia 7.

O pároco de Santo Emídio, padre João Henrique Mattos, pediu um minuto de silêncio antes de fazer a bênção oficial do bairro. “É um momento de celebração, mas precisamos lembrar também de pessoas que estamos perdendo nesse duro momento, inclusive por causa da pandemia”, pediu.

As autoridade hastearam as bandeiras ao som do Hino Nacional – que, neste ano excepcionalmente, foi tocado ao invés de ser entoado pelo coral “Os Sapecas” do grupo de Terceira Idade do Círculo. Outra alteração no tradicional roteiro do ato, também por conta das normas sanitárias vigentes, foi a suspensão do café da manhã servido no Salão Nobre do Círculo. Os convidados ganharam um pedaço de bolo.

Um dos momentos mais simbólicos é a colocação de flores na base do Obelisco erguido na praça na ocasião do 100° aniversário de Vila Prudente. O singelo ato é a forma de agradecer centenas de famílias que já passaram pelo bairro e deixaram a sua contribuição. Neste ano, quem teve a honra de fazer essa homenagem foram os diretores do Círculo, Emilio Carlos Pizzo e Maldi Maurutto.

Um curioso momento que ficará para história é a tradicional foto no obelisco com os convidados usando máscaras de proteção facial. Um ensinamento e alerta às gerações futuras que se depararem com essa imagem.