A Prefeitura lançou o edital de licitação para contratar as empresas de ônibus que atenderão a cidade pelos próximos 20 anos. O serviço de transporte público em vigor na cidade foi contratado em 2003, na gestão de Marta Suplicy, e venceu em 2013. Desde então é renovado anualmente em caráter emergencial, provocando prejuízos aos cofres públicos, segundo a Prefeitura que defende ainda que a rede precisa de atualização. No novo modelo proposto pelo governo municipal, que ficou disponível para consulta pública e sugestões até março, consta uma série de mudanças na rede de ônibus em vigor. Estão previstas extinções de linhas, modificações de itinerários, unificação de rotas e aumento de vias atendidas.
O governo municipal afirma que nenhuma mudança será feita da noite para o dia. Explica que somente após seis meses da contratação das novas empresas, as alterações começarão a ser implantadas de forma gradativa e o novo modelo deve levar três anos para ser colocado totalmente em prática.
Mesmo sem previsão de quando as mudanças ocorrerão de fato, a proposta da Prefeitura já faz parte das conversas em pontos de ônibus e tem causado apreensão entre os usuários, principalmente por causa da extinção de linhas. A São Paulo Transportes (SPTrans) confirma a redução de 1.337 para 1.188 linhas – 149 a menos. O órgão defende que o encolhimento visa diminuir o tempo de viagem em 5%, porque hoje a cidade conta com mais de uma linha fazendo o mesmo trajeto, o que causa trânsito nas principais vias, aumenta os intervalos entre os ônibus e diminui a velocidade do sistema. Porém, com a extinção de linhas, os usuários terão que aumentar o número de integrações pela cidade.
O vereador Toninho Vespoli (PSOL) ressalta que a proposta desenvolvida nos meses de governo do ex-prefeito João Doria (PSDB) beneficia os empresários de transporte público e prejudica a população. “Haverá redução da frota com a retirada de 936 ônibus de circulação. Vale ressaltar que a maioria das linhas mantidas sem alteração é de micro-ônibus, que fazem trajetos curtos e geralmente param de circular às 22h”, comenta. Outra preocupação do vereador é que as várias baldeações são mais difíceis para idosos e pessoas com deficiência. “O trajeto será ainda mais exaustivo devido às caminhadas de um ponto para o outro e o desce e sobe para entrar e sair dos ônibus”, completa Toninho Vespoli.
Mudanças de peso
Na região, uma das linhas que será extinta conforme a proposta da Prefeitura é a 314V-10 Vila Ema/Praça Almeida Júnior, que circula há mais de 50 anos. Segundo a SPTrans, os usuários terão como opção a linha Parque Bancário/Vila Prudente, que deverá ser acessada na rua Uhland com ponto final no Terminal Vila Prudente, onde haverá opções até a praça Almeida Júnior, no bairro da Liberdade.
“É inadmissível acabar com uma linha que há mais de meio século atende as pessoas que residem na região da Vila Ema. A sugestão proposta também é descabida. Os pontos de ônibus estão sempre cheios e os coletivos já circulam lotados. Tirando uma linha importante como essa, irá sobrecarregar ainda mais o sistema de ônibus na região”, comenta o morador e historiador da Vila Ema, Rodnei Brunete da Cruz.
Quem também reclama é o usuário da linha na Vila Ema, Natanael de Sousa. “Teremos que depender de uma opção que vem do Parque Bancário, no Sapopemba, e certamente chegará lotada”, ressalta. “Esperamos mudanças para melhor, mas essa proposta da Prefeitura irá prejudicar muitas pessoas”.
Outra linha que também será extinta é a 373M-10 Jardim Guairacá /Shopping Metrô Tatuapé – que tem um longo trajeto na região e é praticamente a única que corta o bairro do Jardim Independência e atende diversos moradores do bairro que precisam se deslocar para a Vila Zelina e a Mooca. Conforme a nova proposta, o usuário que hoje embarca no Guairacá e fica no ônibus até o destino final, passará a fazer quatro integrações. “Calculamos que o passageiro levará mais tempo por causa dos vários deslocamentos. Hoje o usuário necessita apenas de uma condução para percorrer o trajeto, com a proposta terá que descer três vezes do coletivo para acessar outro. Vai alterar muito a rotina das pessoas”, ressalta a vereadora Juliana Cardoso (PT). “Outra questão é que nos horários de pico, os ônibus já circulam lotados, então essas baldeações não serão tão simples como alega a Prefeitura”, completa.
A lista de cortes e/ou alterações de trajetos envolve outras linhas que atendem a região. “A linha 5145-10 também será extinta. Quem reside próximo à futura estação Orfanato do metrô não terá mais opção de ônibus para o Ipiranga. Assim, terá que andar mais de um quilômetro para chegar ao largo de Vila Prudente e ao novo terminal”, comenta preocupado Lucas Picaro Encina.
A SPTrans justifica que todas as vias atualmente atendidas pelo transporte coletivo municipal por ônibus continuarão servidas e o atendimento será ampliado com novas linhas, rotas e ruas que não recebem ônibus hoje. Nas contas da Prefeitura, dos atuais 4.600 quilômetros de vias com ônibus serão 5.100 com a nova rede idealizada. O órgão destaca ainda que nenhum passageiro terá de utilizar mais de quatro ônibus para fazer sua viagem, conforme a regra de utilização do Bilhete Único.
No site da SPTrans (www.sptrans.com.br/perguntas-novarede/) é possível esclarecer as principais dúvidas e consultar a listagem de outras linhas que serão desativadas ou alteradas separadas por região. (Gerson Rodrigues / Kátia Leite)