Moradores das ruas Domingos Afonso e São João Evangelista, na Santa Clara, viveram momentos de pânico na noite da terça-feira, dia 28, ao constatarem que, mais uma vez, a adutora na altura do número 130 da Domingos Afonso havia rompido. O medo é justificado. Em abril de 2001, a pouquíssimos metros desse ponto, outro estouro da mesma adutora causou enorme prejuízo à vizinhança e é considerado o pior já ocorrido na região.
Katia Lima, moradora do número 100 da rua São João Evangelista, não esquece o ocorrido de 2001. Grávida de oito meses e nervosa com a água na cintura dentro de casa, precisou ser resgatada e levada às pressas ao hospital, onde a filha, hoje com 15 anos, nasceu prematuramente. “Pelo menos, agora, não tivemos riscos de vidas, foram prejuízos materiais, que espero que sejam devidamente ressarcidos pela Sabesp. Embora, o que nos pagam, não justifica o estresse que passamos nessas situações”, comenta Katia que mora nos fundos do terreno com a família e no imóvel da frente mantém uma pensão para moças.
Na noite da última terça-feira, o rompimento ocorreu por volta das 19h. Logo as ruas viraram um rio lamacento e a água barrenta invadiu as residências. O motorista de um veículo Fiat Uno que tentou subir a Domingos Afonso acabou com o automóvel na cratera aberta pelo estouro da adutora.
Os imóveis mais prejudicados foram os que ficam abaixo do nível da rua. Na residência no número 205 da rua Domingos Afonso a garagem acumulou dois metros de altura de água, cobrindo o carro da família e todo o estoque de uma empresa de decoração. “Tenho um e-commerce com artigos para decoração. Minha filha teve que tirar o site do ar, porque além de perder os produtos, meu computador também estava na garagem. Só em materiais perdi em torno de R$ 15 mil, mas todas as imagens que usava para o site também estavam nesse computador. Será um transtorno enorme”, afirma Rofoldo Stefanini. Ele comenta que a vizinhança está estudando abrir uma ação coletiva de danos morais contra a Sabesp. “Dessa vez foi menos violento que em 2001, mas é um absurdo passar por essa situação de novo. Essas tubulações estão velhas e a estrutura da Sabesp é precária. Para ter uma ideia, precisaram testar seis bombas para esvaziarem a minha garagem, quando finalmente uma delas funcionou, a água já estava escoando sozinha”, conta.
A vizinhança é unânime em afirmar que a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) é displicente com a situação das adutoras no bairro. “Quando a gente reclama de vazamentos, demoram dias para vir. Lá em cima, na avenida Luiz Ferreira da Silva, onde tem a adutora Rio Claro, é visível a estrutura toda enferrujada. Se aquilo romper, acaba com o bairro!”, comentam em conjunto. Outra reclamação é sobre o constante tráfego de veículos pesados na rua. “Já reclamamos com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), mas tudo continua na mesma. Outro dia uma carreta não conseguiu terminar de subir a Domingos Afonso”, completam.
Em nota à imprensa, a Sabesp informou que as equipes começaram a trabalhar às 22h da terça-feira no reparo do vazamento. Os serviços se estenderam até a noite da quarta-feira, dia 29. Após a conclusão do conserto na rede de água da Companhia, a Prefeitura também precisou fazer reparo na galeria de água pluvial na manhã de ontem. Na sequência, a Sabesp faria a cobertura da enorme vala aberta e a reposição do pavimento.
Para os reparos na adutora, foi interrompido o fornecimento de água para 13 bairros, entre eles, Vila Alpina, Vila Bela, Jardim Independência, Parque São Lucas, Vila Prudente e Vila Zelina. O abastecimento foi retomado gradualmente durante a madrugada da quinta-feira, dia 30, mas, alguns imóveis da região só voltaram a ter água nas torneiras às 7h da manhã, totalizando mais de 30 horas sem o serviço.
Sobre os prejuízos da vizinhança da adutora rompida, a Sabesp afirmou que prestou assistência às pessoas afetadas e fará o ressarcimento de todos os eventuais prejuízos. A Companhia esclareceu que, em casos de sinistro, a vistoria é realizada por técnicos da empresa. Na sequência, o cliente apresenta três orçamentos com valores atuais de mercado e após a análise dos documentos, ocorre a indenização pelos danos materiais. Não foi informado quanto tempo, em média, leva todo esse processo.