Ainda não completou um mês da volta às aulas na rede estadual de ensino e os pais de estudantes da escola estadual Professor José Heitor Carusi já têm uma longa lista de queixas e preocupações. Instalada em área nobre da Mooca, na rua Comendador Roberto Ugolini, e a cerca de 500 metros da Diretoria de Ensino – Leste 5 da Secretaria da Educação do Estado, o imóvel da escola acumula graves problemas estruturais que chegam a interromper as aulas em dias de chuva forte.
Logo no primeiro dia deste ano letivo, em 15 de fevereiro, uma turma já teve que mudar de sala de aula porque começou a vazar água pelo teto. A apreensão da mãe de um aluno de 13 anos desse grupo só aumentou quando descobriu que, no dia seguinte, os estudantes voltaram para a antiga sala – ainda alagada e com baldes espalhados em meio às carteiras. “Tenho muito medo de desabamento e todo mundo sabe que aqui no Brasil só resolvem tomar uma atitude quando acontece uma tragédia”, desabafou.
Quem esteve na reunião de pais, responsáveis e mestres na sexta-feira passada, dia 26, também saiu assustado do local. “Começou a chover durante a reunião e pingou na sala. Olhei para o teto e tem manchas enormes amareladas de tanta infiltração. Minha neta contou que na sala dela tem goteiras. Também vi rachaduras grandes na escada e notei que duas salas no térreo estão com o piso desnivelado. Só vou sossegar quando me mostrarem um laudo de que a minha neta não está correndo perigo nesta escola tão mal cuidada”, comenta o preocupado avô.
A apreensão aumentou ainda mais depois do ocorrido na manhã da última terça-feira, dia 1º, quando os estudantes chegaram à escola e se depararam com uma estrutura despencada do teto do pátio. “Caiu durante a madrugada. E se fosse durante o horário do intervalo? Podia atingir um aluno!”, comenta uma mãe que ligou para a redação da Folha. O filho dela ficou sem aula na terça. O ocorrido prejudicou até o turno da tarde. “O tio da perua passou avisando que não levaria minha neta para a escola, porque pela manhã teve que devolver os alunos em casa”, conta uma avó.
Tais situações não são novidade na escola. Exatamente há um ano, a Folha publicou matéria relatando que em dias de chuva os estudantes ficavam sem aula ou eram obrigados a conviver com poças e baldes. Estudantes ouvidos nesta semana contaram que os professores precisam desviar das goteiras durante as explicações.
Em nota, a Diretoria Regional de Ensino informou na última quarta-feira, dia 2, que o telhado recebeu reparos enquanto o projeto de reforma completa era concluído. O orçamento da obra foi realizado e aprovado, no valor de R$ 535 mil. Será necessária a adoção dos trâmites legais para contratação dos serviços, após os quais a obra será executada. Foi ressaltado que “as aulas na escola prosseguem normalmente e o prédio não oferece risco aos alunos”. Também foi informado que conteúdo perdido na manhã de terça-feira, dia 1º, será reposto.
Também procurada pela reportagem, a Subprefeitura Mooca explicou que a Defesa Civil vistoriou a escola no último dia 16 e a interdição não foi necessária. Porém foi constatada a má conservação da edificação com rachaduras nas paredes e infiltração de águas, inclusive pelo telhado, trazendo possíveis riscos de segurança pelo contato da água com a rede elétrica das luminárias e ventiladores. A situação resultou em auto de intimidação para que os responsáveis promovam a manutenção do imóvel com reforço estrutural. Foi ressaltado que a Diretoria Regional de Ensino foi oficiada. A Folha foi informada que uma nova vistoria está programada para hoje.
Diretoria solicita reforma desde 2010
No dia seguinte a queda de parte do forro do telhado do pátio, a diretoria da escola recebeu a reportagem da Folha e explicou as providências que vem tomando para tentar obter melhorias na estrutura do prédio, que foi construído há cerca de 60 anos.
A diretora Célia Regina Kirche alegou que envia ofícios de solicitações de reparo à Secretaria da Educação do Estado desde 2010. “Cada vez que acontece alguma coisa encaminhamos inclusive as fotos. O que sabemos é que desde o ano passado está sendo elaborado um projeto de reforma. Esses processos são demorados. Não temos data prevista, mas a obra será feita”, explica.
Indagada sobre as salas de aula – que têm problemas como goteiras, rachaduras e marcas de umidade – a diretora garantiu que as 12 salas da escola são utilizadas. A unidade possui 900 alunos. “Acontece que em dias de chuva forte, quando as goteiras aparecem em algumas salas, remanejamos os alunos para outras dependências”, contou a diretora.
A direção garantiu que na última terça-feira os alunos não foram dispensados. “O problema ocorreu na entrada e muitos optaram por ir embora. Realizamos algumas atividades com os que permaneceram”, comentou o vice-diretor José Cortez Marques. (Gerson Rodrigues)