Encontrar o automóvel suspenso pelo macaco hidráulico e sem as rodas, furtadas pela bandidagem, deixa qualquer um indignado. Mas, se deparar com essa cena no estacionamento de um cemitério municipal, após o velório de um ente querido, só torna a situação muito mais desagradável.
Foi exatamente o que aconteceu com o casal Pinar e a filha no último dia 20 de fevereiro. A família saiu de São José dos Campos para o velório de uma prima no Cemitério São Pedro, em Vila Alpina, e após permanecer por cerca de duas horas no local, teve que improvisar o transporte para retornar ao interior de São Paulo, enquanto o automóvel voltou guinchado. Saímos do velório por volta das 20h30 e o estacionamento do cemitério estava muito escuro. Entramos rápido no carro, até com medo de assalto. Quando meu marido engatou a ré e acelerou, o veículo caiu. Descobrimos que duas rodas foram roubadas e deixaram o carro em cima de um macaco”, conta Deise Pinar.
Ela e a filha fizeram questão de relatar o caso em uma rede social, ressaltando que “as luzes dos postes no estacionamento estão apagadas há mais de um ano e o Serviço Funerário do Município não resolve o problema”. “Nunca passou pela nossa cabeça que isso fosse acontecer dentro do cemitério. Quero tornar público para alertar outras pessoas”, explicou Deise à Folha nesta semana. “E o transtorno ainda não acabou. O carro está no nome da multinacional onde meu marido é diretor, então não conseguimos registrar o boletim eletrônico. Vamos ter que voltar a São Paulo para fazer a ocorrência”, completa.
Passados oito dias do ocorrido, uma amiga da filha de Deise comentou, também via rede social, que estava no Cemitério São Pedro diante de outro veículo sem as rodas. Contatada pela reportagem, Fernanda Faria contou que no último domingo, dia 28, foi ao velório de uma tia e viu um rapaz bastante nervoso se dirigir à administração. “Ele havia chegado por volta das 17h e parou o carro logo depois da entrada, mesmo assim levaram as rodas. Todos ficamos indignados. Ele até acionou o alarme para nos mostrar como o carro estava perto, mas era uma escuridão total”, narra Fernanda. “A violência está cerceando até o nosso direito de sofrer”, sintetiza.
Serviço Funerário alega que não se responsabiliza por danos ou furtos, Guarda Civil não se pronuncia
De acordo com o Serviço Funerário do Município, “os estacionamentos dos cemitérios municipais, incluindo o crematório, são áreas públicas abertas, sem controle de entrada e saída, cujo uso é permitido por mera liberalidade e interesse do usuário”. Com essa explicação, o órgão alega que não se responsabiliza por danos ou furtos sofridos pelos veículos durante a estadia nesses estacionamentos.
Questionado sobre a segurança do local, o Serviço Funerário explicou que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) é a responsável pelas rondas externas e internas dos cemitérios. A Folha também pediu uma posição da Inspetoria Regional de Vila Prudente da GCM e não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Sobre a penumbra no estacionamento, a Folha já havia cobrado o Serviço Funerário no início de fevereiro, ocasião em que publicou matéria sobre outros problemas do cemitério (túmulos desabando, campas encobertas pelo matagal e banheiros do velório sem condições de uso). No dia 11, a resposta foi que o projeto de iluminação está sem estudo junto ao Departamento de Iluminação Pública (Ilume). A reportagem voltou a questionar nesta semana quando o estudo será concluído e ocorrerá de fato a melhoria, mas o Serviço Funerário não informou prazos. (Kátia Leite)