Situações adversas como as que ocorrem na região Sudeste do Brasil, em especial no estado de São Paulo nos primeiros 20 dias de janeiro, com um período prolongado de pouca chuva e temperaturas elevadas, não estão associadas com condições atmosféricas locais. Estas situações estão associadas com alterações nas condições atmosféricas de escala hemisférica ou global, e, portanto difíceis de serem explicadas sem um estudo mais detalhado.
Olhando para um setor mais continental durante os primeiros 20 dias de janeiro, pode-se dizer que as condições atmosféricas que estavam provocando essas alterações no tempo estavam associadas a três fatores:
O primeiro era um bloqueio sobre o Pacífico Sul. Em um linguajar mais simples, o bloqueio atmosférico é semelhante ao que ocorre se colocarmos uma enorme pedra em um rio. A pedra vai desviar a água para os dois lados. Por sua vez, bloqueio atmosférico desvia os ventos, além da trajetória das frentes frias e dos ciclones. Assim, durante o período em que estava presente esse bloqueio, as frentes frias eram desviadas para longe da região sudeste.
O segundo fator está associado com mudanças na direção dos ventos em baixos níveis (ventos até 3 km de altura) vindos da Amazônia. Esses ventos são quentes e úmidos, por isso chove muito no verão na nossa região. Este ano eles estão se direcionado mais para o Sul do Paraguai, atingindo o norte da Argentina e sul do Brasil.
O terceiro é o chamado Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (ele se forma em torno de 12 km de altura). Esse sistema normalmente atua na região Nordeste do Brasil durante os meses de verão. Mas devido às alterações da circulação atmosférica na América do Sul, esse vórtice se deslocou mais para o sul, atingindo o norte da região sudeste. Por ser um ciclone de altos níveis, ele está associado com movimento descendente de ar seco no seu centro e no setor sudoeste. Assim, São Paulo ficou na região de movimento descendente do vórtice. Esse movimento descendente inibe a formação de nuvens, e ao mesmo tempo por ser seco, favorece para que ocorra um aumento da radiação solar. O que fez as temperaturas de São Paulo elevarem.
Na quarta-feira da semana passada (dia 21 de janeiro), o bloqueio dissipou e as condições atmosféricas começaram a mudar para as condições normais. Mas ainda falta configurar os ventos vindo da região Amazônica para que possamos ter dias de muita chuva, e com isso recuperar um pouco o nível das represas que abastecem a região metropolitana de São Paulo.
* Manoel Alonso Gan é bacharel em Física pela Pontifícia Universidade Católica de SP, mestrado e doutorado em Meteorologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (IPEN), Pós-Doutorado pelo International Research Institute for Climate Prediction. Atualmente é pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Meteorologia Sinótica e climatologia, atuando principalmente nos seguintes temas: precipitação, eventos extremos, instabilidade baroclinica, ciclogenese, vortices ciclonicos e circulação de monção na América do Sul.