Na noite da última terça-feira, dia 5, a polícia civil realizou nova perícia no edifício residencial no número 481 da avenida Paes de Barros, na Mooca, onde Alex Dalla Vechia Costa, 32 anos, e Ailton dos Santos, 33, foram mortos a tiros no último dia 31, após acessarem o prédio supostamente para pichar. No dia seguinte à perícia, foi a vez da Corregedoria da Polícia Militar mostrar que também tem dúvidas em relação à versão dos policiais que participaram da ação e determinou a prisão administrativa dos quatro primeiros que chegaram ao condomínio para atender a ocorrência. Ontem, a Justiça decretou a prisão temporária por 30 dias. Eles são do 21º Batalhão, responsável pelo patrulhamento de vários bairros da região. Segundo relato dos policiais militares que atenderam a ocorrência, os dois suspeitos estavam armados e foram baleados em troca de tiros. Familiares e amigos de Costa e Santos admitem que eles eram pichadores, mas não portavam armas.
Durante a perícia nesta semana no interior do apartamento onde os dois homens foram baleados, que fica no último andar do edifício, profissionais da Polícia Científica e investigadores do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) utilizaram o composto químico chamado luminol, que identifica manchas de sangue mesmo depois da limpeza. Amostras coletadas foram levadas para o laboratório. O trabalho da perícia será confrontado com a versão relatada pelos policiais militares.
O caso aconteceu por volta das 18h30 da quinta-feira retrasada, dia 31. Imagens das câmeras de segurança do edifício mostram os dois homens entrando no condomínio depois que o porteiro os confundiu com moradores. Já no elevador, a dupla fez fotos diante do espelho. Em seguida as câmeras mostram o zelador travando a porta de um dos elevadores no andar térreo, antes da chegada da polícia.
De acordo com o boletim de ocorrência, após entrarem no prédio e se dirigirem até o último andar, os dois homens foram surpreendidos pelo zelador que questionou a presença deles. Segundo o documento, a dupla afirmou que trabalhava na manutenção dos elevadores. Desconfiado, o zelador foi à portaria, acionou a PM e usou um pé de cabra e uma cadeira para travar um dos elevadores. Os policiais chegaram ao edifício 25 minutos depois e, na versão deles, em um apartamento do 18º andar, onde reside o zelador, foram recebidos a balas pelos pichadores. Segundo os policiais, um deles estava na cozinha e usava um revólver 38, e o outro, no quarto com uma pistola 380. Um dos policiais foi ferido no braço. Ainda de acordo com a versão policial, para se protegerem, revidaram os tiros, baleando os suspeitos.
O DHPP aguarda laudos técnicos do Instituto Médico Legal (IML) e do Instituto de Criminalística (IC) para saber quantos tiros foram disparados e quantas perfurações as vítimas sofreram. Peritos apuram ainda se os mortos foram alvejados pelas costas.
Além da versão apresentada pela PM, o DHPP também trabalha com a tese de que os pichadores foram executados sem confronto. A hipótese ganha força por conta dos depoimentos de parentes e amigos da dupla. Eles afirmam que Costa e Santos nunca portaram armas e entraram no prédio da Mooca para pichar, o que era um hábito comum entre eles. A Secretaria de Segurança Pública informou que os dois possuíam várias passagens na polícia por pichação, que é considerado vandalismo e crime ambiental.
Suspeitas
Ao anunciar a prisão administrativa dos quatro primeiros policiais que chegaram ao prédio: um tenente, um sargento e dois cabos da Força Tática, a Corregedoria da Polícia Militar alegou que a medida foi tomada após a constatação de divergências nas informações prestadas por eles, principalmente quanto a horários. Segundo o corregedor, apesar do atendimento da ocorrência ter começado às 18h30, somente às 19h48 o comando da PM foi informado sobre o caso – o que é proibido pelo regulamento da corporação. Outro agravante é o fato de uma testemunha, que está preservada, ter afirmado que houve dois momentos de disparos de arma de fogo em um intervalo de 10 minutos.
A diretora do DHPP, a delegada Elisabete Sato, cobra também a relação de todos os demais policiais envolvidos na operação. “São horários que não batem e o fato de uma mochila das vítimas ter sido apresentada posteriormente. É tudo isso que estamos apurando”, disse Sato.
Com a prisão temporária decretada pela Justiça, os quatro policiais foram transferidos para o presídio militar Romão Gomes.
Deus me livre e guarde de encontrar duas pessoas dessas tão “simplórias” dentro da minha casa. Eu infarto na hora !!!!!!