Apesar de todos os avisos ao longo dos últimos 20 anos, o governo Geraldo Alckmin não se planejou e deixou de realizar os investimentos necessários para que a Sabesp montasse um sistema seguro de distribuição de água à prova de estiagem, como determinavam os estudos técnicos. Claro que existem problemas que aparecem de forma imprevista. Não é o caso da crise da água em São Paulo. Nas últimas duas décadas, Geraldo Alckmin foi vice-governador durante seis anos e governador por nove. Em sua longa permanência no Palácio dos Bandeirantes, teve tempo de sobra para planejar e executar projetos que evitassem a falta d’água. O episódio aponta com clareza uma das principais fraquezas do governo Alckmin: a inação. Falta transparência, planejamento, coragem e ação. Falta governo.
Com isso, falta também água para grande parte da população paulista, tanto na capital quanto no interior, e as interrupções no fornecimento se tornam repetidas e rotineiras. Em Guarulhos, por exemplo, o volume de água fornecido foi cortado de 900 mil litros por segundo para 500 mil litros por segundo. O prefeito Sebastião Almeida recebeu o aviso por e-mail. Como medida emergencial, começou-se a usar o chamado volume morto do Sistema Cantareira, que atende, entre outras regiões, as subprefeituras de Vila Prudente e Mooca. A água do chamado volume morto fica abaixo do nível normal de bombeamento e sua captação precisou de um novo sistema de bombas, feito às pressas, em caráter emergencial.
Após 30 anos, em 2004, houve a renovação da concessão para a Sabesp do Sistema Cantareira. A autorização foi concedida em caráter especial por mais dez anos com o alerta sobre a necessidade de se diminuir a dependência de água do Cantareira. A condição para a manutenção da outorga era realizar, num prazo de dois anos e meio, um plano de investimentos capaz de diminuir essa dependência. De tão fraco, o plano acabou recusado. Em 2008, sem solução à vista, um documento preparado pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), órgão do governo estadual, fazia um alerta sobre as limitações do modelo adotado para abastecer a Região Metropolitana de São Paulo. “A região não dispõe de dispositivos hidráulicos capazes de garantir o suprimento de água bruta quando da ocorrência de eventos críticos de escassez”. Mais claro, impossível. Em 2013, quando os investimentos prometidos anos atrás ainda não tinham sido realizados, o DAEE produziu outro documento. O alerta deu lugar a uma previsão sombria caso se repetisse a seca histórica de meados da década de 1950. “A redução na disponibilidade de água, superior a 40%, teria efeitos catastróficos sobre a população”. Ou seja, a escassez é um fenômeno previsto. E para combatê-la só existe uma saída: planejamento e obras. Foi isso o que faltou ao governo do Estado de São Paulo.