Desde a implantação no ano passado da faixa exclusiva para ônibus na rua do Orfanato, na Vila Prudente, muitos motoristas abandonaram a via principal e passaram a cortar caminho pelas ruas residenciais. Entre as vias mais atingidas pelo tráfego intenso estão as ruas Tagaris, Santa Lina, Agulha e Padre Leonel da França, na região da Vila Libanesa, onde começa a Orfanato. A situação piorou ainda mais no início deste ano, quando a CET decidiu ampliar a extensão da exclusividade na Orfanato até este trecho. O resultado – todas as manhãs – são as cenas desta página: muito congestionamento que, além de estressar os motoristas, acabou com a paz dos moradores.
“Além de automóveis e motocicletas que desviam da Orfanato, a rua Agulha sempre tem carretas estacionadas, rodando ou manobrando a hora que bem entendem, o que complica ainda mais o tráfego. Às quartas-feiras, quando ocorre a feira livre na rua Ministro Salgado Filho, o congestionamento é ainda pior, já que os motoristas perdem mais uma opção de circulação. A indignação é grande entre muitos moradores, porque a Prefeitura não tem o direito de simplesmente despejar esse trânsito todo nas nossas portas”, argumenta um morador da rua Santa Lina, que pede para não ter o nome divulgado. “Com essas faixas, não puniu apenas os motoristas de carros, mas, também moradores que vivem há anos no bairro. Vejo os vizinhos sofrendo para tirar os carros da garagem e depois ficam travados no congestionamento”, completa.
O engenheiro Maurício Ramas, que utiliza o trecho para levar os dois filhos para o colégio na Mooca, também está indignado. “De um dia para o outro descobrimos que vamos gastar 20/30 minutos a mais no mesmo trajeto que fazemos rotineiramente. Cadê a nossa qualidade de vida? A Prefeitura tem o direito de acabar com ela desta forma?”, questiona. “Também não tenho a opção de enfiar meus dois filhos em um ônibus lotado, que nunca tem horário certo para passar. Só nos resta acordar cada vez mais cedo para ficar parado no trânsito”.
Para escapar dos congestionamentos, muitos motoristas estão cometendo infração de trânsito e acessando a rua Tomás da Fonseca pela contramão. “É um perigo, porque com as calçadas em mau estado, muitas pessoas andam pelo meio da rua mesmo e agora, vêm carros dos dois lados. Mas, o que a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) fez no bairro também não está certo e ao invés de mandar alguém auxiliar o tráfego, só coloca um agente escondido para multar os motoristas, ou seja, ainda está arrecadando com a situação!”, comenta um morador da Tomás da Fonseca, que pede para manter o nome em sigilo.
“O correto seria o marronzinho ficar na esquina com a Agulha para impedir os motoristas de virarem no sentido errado. Mas, ele deixa os carros percorrerem a rua na contramão, só para poder multar no final. Até chegar a outra esquina, se ocorrer um atropelamento ou batida, pelo visto, não é problema da CET!”, completa um morador da rua Agulha que conversou com a reportagem na manhã da sexta-feira passada, dia 14, enquanto o agente da CET estava parado na rua General Alcio Souto, onde não há congestionamento. Ele multava os motoristas que, assim como denunciou o morador, saíam da Tomás Fonseca, após percorrer um quarteirão inteiro na contramão. A reportagem flagrou a mesma situação na manhã da última quarta-feira, dia 19.
CET não se pronuncia sobre o trânsito
Desde 5 de fevereiro, a Folha questiona a Companhia de Engenharia de Tráfego sobre o aumento do fluxo de veículos nas ruas citadas na matéria e se órgão avalia a situação para tentar minimizar os transtornos aos motoristas e moradores do bairro. Semanas depois, a CET encaminhou e-mail ressaltando a melhoria gerada ao transporte coletivo com a implantação das faixas exclusivas. A reportagem esclareceu que conhece os estudos da Prefeitura sobre a diminuição do tempo de viagem para passageiros de ônibus, mas, que o foco da matéria não era esse. A Folha continuou questionando a CET, mas, não obteve novo retorno.
Definitivamente, precisamos preservar as ruas residenciais, principalmente as que ainda são tranquilas. Trazer o perigo do trânsito a poluição e outros fatores agressivos compromete ainda mais a sofrida vida em São Paulo.