O antigo e histórico prédio da creche Marina Crespi, na rua João Antonio de Oliveira, 59, na Mooca, que desde 2010 estava invadido por sem-tetos, foi desocupado totalmente na última quarta-feira, dia 22. O pedido de reintegração, determinado pelo juiz Rogério Murillo Pereira Cimino, da 28ª Vara Civil do Foro Central de São Paulo, partiu da instituição proprietária do prédio, a Fundação Ninho Jardim Condessa Marina Regoli Crespi. A ação, que foi pacífica, contou com o auxílio de 40 policiais militares, bombeiros e agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que organizaram o trânsito nas proximidades.
Segundo o capitão Marcos José, do 45º Batalhão de Polícia Militar / Metropolitano, cerca de 100 famílias ocupavam o imóvel, totalizando aproximadamente 700 pessoas, sendo 200 crianças. “Em outubro do ano passado foi feito um acordo entre a Justiça, a Polícia Militar, os moradores do local e órgãos municipais para que até o dia de hoje (quarta-feira, dia 22) o prédio fosse desocupado. As pessoas foram deixando o imóvel pacificamente nos últimos dias e restaram apenas cerca de 10 famílias, que estão sendo removidas hoje. Foram disponibilizados caminhões para levar os pertences dessas pessoas para os locais escolhidos por eles. Hoje o prédio será entregue aos proprietários”, declarou o capitão.
A reportagem da Folha esteve no local e conversou com um representante da instituição proprietária do imóvel que se identificou como Roberto. “Essa é uma batalha de muito tempo. Desde 2010 buscamos na Justiça essa reintegração. É muito triste ver o estado em que essas pessoas viviam e não saber o destino delas, mas o imóvel precisava ser desocupado. Ainda não temos noção de como está a condição estrutural do prédio e, por isso, não temos como planejar uma destinação por enquanto”, declarou. A reportagem esteve no interior do imóvel e constatou a precariedade. As paredes estão destruídas, o piso está totalmente danificado, as dependências estão tomadas por lixo e na parte externa foram construídos diversos abrigos de alvenaria, alguns funcionavam inclusive como comércio.
Durante o período ocupado por sem-tetos, o prédio, que antes era um cartão postal, se transformou em fonte de problemas aos moradores da redondeza. “O lixo acumulado na rua dos Trilhos era impressionante. As pessoas que ocupavam a creche, descaradamente, jogavam restos de comidas, móveis, entulho e muitas outras coisas na rua. Houve vários alagamentos por conta desse lixo que entupia os bueiros. Se os órgãos competentes tivessem agido com rapidez, em 2010, a situação não teria chegado neste ponto crítico”, declarou um antigo morador da rua Javari que se identificou como Braz.
História
Inaugurado em 1933, a construção, antes da invasão, era defendida pelos moradores do bairro como patrimônio histórico e o seu tombamento estava em análise no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp). O local abrigou por mais de 70 anos funções sociais e educacionais, inicialmente vinculadas aos trabalhadores das indústrias Crespi e, posteriormente, atendendo a população em geral da região.
A Creche Marina Crespi foi concebida por Giovanni Battista Bianchi, o mesmo que criou a edificação do Cotonifício Crespi, datada de 1897. Sua obra faz parte da produção arquitetônica realizada por profissionais imigrantes que se estabeleceram em São Paulo. Sua arquitetura tem inspiração náutica, projetada pelo arquiteto italiano e que incorpora no prédio referências a passadiços e escotilhas, além de mastros e formas curvas que também remetem a navios.
A Secretaria Municipal de Habitação informou que foram cadastradas 65 famílias que irão receber apoio habitacional em cota única no valor de R$ 900 e também unidades habitacionais definitivas. O prazo para a entrega das moradias não foi estipulado. Já a Subprefeitura Mooca esclareceu que realizará limpeza no entorno do imóvel e poda das árvores do local.
E agora? Para onde irão essas famílias?
Só para informar que a grande maioria que saiu do prédio da creche, ja esta morando num imovel invadido na rua almeida lima, um quarteirao depois, quer dizer cobre um santo e descobre outro
Já invadiram novamente.