Histórias, fatos e detalhes marcantes fizeram a Mooca, um dos bairros mais antigos da cidade, ganhar características próprias que a distinguem dos demais. Uma das peculiaridades mais conhecidas é a forma de falar de boa parte dos moradores, principalmente os mais antigos, o que já gerou inclusive pedido no Conselho Municipal do Patrimônio Histórico de São Paulo (Conpresp) para transformar o “mooquês” em patrimônio da cidade. Mas, além da forma de se expressar, o que também chama a atenção no bairro são os históricos locais, remanescentes da época fabril, além de comércios, como restaurantes e bares, que acabaram ganhando a simpatia dos paulistanos em geral, incluindo várias personalidades que os visitam periodicamente.
Como os próprios moradores definem, o bairro é uma província no meio de São Paulo. E os números realmente se equivalem aos de algumas cidades do país. A Mooca possui área de cerca de oito quilômetros quadrados, com 242 ruas e, segundo a Subprefeitura, população de mais de 75 mil habitantes, sendo mais de 40 mil mulheres. A região conta com 72 escolas, entre públicas e particulares, 18 unidades de saúde, além de praças esportivas, bibliotecas e um teatro municipal.
A atual luta da comunidade, em meio à chegada de enormes empreendimentos imobiliários, é justamente para manter suas tradições e características. Por conta do 456º aniversário, completado hoje, 17 de agosto, a Folha percorreu alguns destes locais que tanto orgulham os mooquenses.
Di Cunto
Na rua Borges de Figueiredo há 116 anos, a empresa do ramo gastronômico foi criada inicialmente como uma padaria pelo imigrante italiano Donato Di Cunto. Mas, com o passar dos anos, aliado ao empenho e esforço dos filhos Vicente, Lorenzo, Roberto e Alfredo, ficou conhecida também pelos doces, massas e outras tantas delícias. Atualmente administrada por netos, com a participação de bisnetos, a Di Cunto é referência em confeitaria, além de ser a mais antiga fabricante de panetones em atividade no Brasil. “A empresa é um patrimônio da família. Nos orgulhamos do que é hoje e por fazermos parte da história da Mooca. Preservamos todas as características, principalmente as dos produtos, que são feitos artesanalmente, com alto padrão de qualidade”, conta o bisneto de Donato, Marco Alfredo Di Cunto Júnior, 32 anos, responsável pelo marketing da empresa. “Pessoas de diversas regiões vêm até aqui para consumir nossos produtos. Entre os frequentadores mais assíduos e famosos, estão o ex-governador José Serra e o estilista Alexandre Herchcovitch”, ressalta.
Esfiha Juventus
Conhecida pelas deliciosas esfihas, kibes e demais pratos e doces árabes, a Esfiha Juventus, instalada desde 1967 na rua Visconde de Laguna, 152, é uma das paradas obrigatórias do bairro. “Tudo começou com os meus pais Tamer e Wanda Abrão. Por muitos anos a casa funcionou sem qualquer tipo de modernidade, mas a qualidade do produto sempre foi o diferencial. Com o falecimento do meu pai, em 1998, meu irmão passou a ajudar e surgiram novas ideias. Em 2008, larguei minha carreira no ramo de engenharia e passei a me dedicar exclusivamente ao negócio da família. Conseguimos melhorar várias coisas e, com isso, quem mais ganhou foram nossos clientes”, conta Celso Abrão Tamer. Atualmente a casa comercializa em torno de 2.800 esfihas e 700 kibes por dia e conta com cerca de 70 funcionários, entre eles o encarregado de produção, Noé Teixeira, que está na esfiharia há 34 anos. “Tenho muito orgulho desses anos dedicados à empresa. Através desse emprego construí minha família, criei duas filhas que já estão formadas”, comenta Teixeira.
Pizzaria São Pedro
Famosa pelo cardápio com mais de 70 opções, a pizzaria São Pedro, na rua Javari, 333, se firmou como um dos mais tradicionais endereços gastronômicos do bairro. Fundada em 1966, por Rafael Barbudo, em um pequeno imóvel na Javari, a pizzaria precisou ser transferida em 1971 para a esquina com a rua Visconde de Laguna, onde permanece até hoje, para atender a clientela que não parava de crescer. Outro fator que atrai clientes é a adega climatizada de vinhos da casa. “Esse espaço abriga uma diversificada coleção de tintos adequados ao cardápio”, conta o proprietário Pascoal Barbudo, o Cacau, filho de Rafael, e que se orgulha de continuar na Mooca. “Aqui é onde acontece a reunião de muitos mooquenses, onde histórias são lembradas e onde os amigos se encontram”, comenta lembrando ainda de outro ilustre e assíduo cliente: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Giba´s Bar
Simples, pequeno, mas bastante aconchegante e amigável. Este é o clima do tradicional Giba’s Bar, na rua Visconde de Laguna esquina com a rua Javari. Aberto em 1964 por Ferdinando Luizetto, hoje é administrado pelo filho Gilberto Luizetto. A cozinheira do restaurante é a esposa de Gilberto, Rosana, uma especialista na preparação da famosa Chuleta. Devido ao amor do proprietário pelo futebol e, em especial pelo Juventus, as paredes contam as histórias do esporte e do clube retratadas por fotos. Por conta dessa atmosfera, é ponto de encontro de jogadores antigos como Basílio, Serginho Chulapa, Félix e Coutinho, entre outros. “O Chulapa quando está em São Paulo sempre passa para um bate-papo, assim como outros ex-jogadores que se sentem bem em sentarem aqui e relembrarem a história”, conta Gilberto.
Elídio Bar
Fundado em 1959 por Elídio Raimondi, o bar na rua Isabel Dias, 57, é bastante conhecido por suas peculiaridades, como o balcão com mais de 120 tipos de acepipes e as paredes repletas de camisas e quadros futebolísticos, alguns deles autografados por craques, incluindo o Rei Pelé. Com o falecimento de Elídio, há três meses, as filhas Celeste, Solange e Suzete, assumiram o comando do bar com a ajuda do garçom Antonio Alves Cavalcante, o Toninho ou Tatu, como é conhecido, “patrimônio da casa” há 32 anos. “Estou todo este tempo aqui por causa da amizade com o Seu Elídio e pela paixão em exercer o meu trabalho. Fomos os idealizadores do serviço de petiscos por quilo. Vários locais tentam fazer igual, mas será difícil ter a mesma qualidade, pois o que fazemos é com muito amor. Tudo que é realizado com amor se destaca das coisas comuns”, comenta Tatu, que se emociona ao lembrar do patrão. “Ele não era o meu chefe e sim meu grande amigo”.
Estádio da Rua Javari
Patrimônio exclusivo da Mooca, o estádio Conde Rodolfo Crespi, conhecido como Estádio da rua Javari, é um dos pontos mais tradicionais do bairro. Inaugurado em abril de 1925, foi adquirido pelo Clube Atlético Juventus da família Crespi em 1967. O local, que é um dos pontos mais frequentados pelos mooquenses, ficou ainda mais famoso por ter sido o palco do mais bonito gol do rei Pelé. A obra de arte ocorreu em 2 de agosto de 1959, em uma partida entre Santos e Juventus pelo Campeonato Paulista. Como não existe nenhuma filmagem do feito, Pelé pediu e o mesmo foi recriado em computador para o documentário Pelé Eterno. Com capacidade para cerca de quatro mil pessoas, um dos fatos costumeiros do estádio é o famoso doce cannoli comercializado pelo vendedor Antonio Pereira Garcia, 62 anos, no intervalo das partidas. Como ele sofreu problemas de saúde e vem se recuperando, familiares estão encarregados de vender o doce no estádio.
Teatro Arthur Azevedo
Inaugurado em 2 de agosto de 1952, o teatro municipal Arthur Azevedo, na avenida Paes de Barros, 955, completou 60 anos neste mês. Importante para o entretenimento cultural da região, o equipamento já foi considerado um dos teatros mais modernos da cidade, e o preferido para a apresentação de grupos amadores. Atualmente o espaço encontra-se em reforma estrutural. O objetivo é de modernizar toda a estrutura da sala de apresentações, incluindo novo piso, troca de poltronas e instalação de ar condicionado. Para o palco estão previstas mudanças no sistema de som e iluminação. O teatro ganhará ainda salas de ensaio.
Cotonifício Crespi
Um dos cartões postais da Mooca é o histórico prédio do antigo Cotonifício Rodolfo Crespi, existente desde 1897 entre as ruas dos Trilhos, Taquari, Visconde de Laguna e Javari. A fábrica, do ramo de tecelagem, tinturaria e malharia, foi construída em um espaço de 50 mil metros quadrados e em três andares. O prédio tornou-se um relevante patrimônio cultural dos primórdios da era industrial de São Paulo e também foi bastante representativo, servindo de estopim para a greve de 1917, uma das primeiras e mais violentas greves trabalhistas do Brasil. Em 22 de julho de 1924 o prédio do Cotonifício foi atingido pelo chamado “bombardeio terrificante”, um violento ataque aéreo das forças legalistas federais, durante a Revolução de 1924, sendo parcialmente destruído. Após um longo período em atividade, a fábrica veio a fechar em 1963. O imenso prédio ficou vazio e abandonado até 2003, quando uma rede de hipermercados alugou o edifício. Apenas a fachada do histórico prédio foi preservada. Sua demolição total não ocorreu graças à mobilização da comunidade local.
Igreja São Rafael
Há 77 anos no bairro, a igreja São Rafael, localizada no Largo São Rafael, s/nº, é uma das paróquias mais conhecidas da Mooca. Além das missas e trabalhos sociais, a igreja se destaca pela grande procura na realização de casamentos e batizados. Para se ter uma idéia, noivos que pretendem realizar o matrimônio na paróquia devem se antecipar na organização e na marcação da data, pois o enlace na capela é bastante concorrido.
Tudo começou em 1935 quando os Barnabistas chegaram ao Brasil. Como a fundação de uma casa em São Paulo era um antigo desejo, a Mooca, por ser um bairro operário, foi o escolhido para a abrigar a Paróquia. Funcionando inicialmente no barracão de uma fábrica, a igreja conseguiu lançar em 1937 a pedra fundamental de seu templo, cuja construção possui estilo gótico que impressiona até hoje. Em 1965, o padre Mário Fontana ergueu um centro social de sete andares que além de abrigar as obras pastorais, contém uma creche para crianças carentes que funciona até hoje.
Igreja San Gennaro
Considerada uma das mais antigas igrejas do bairro, a Paróquia de San Gannaro está localizada na rua da Mooca, 950, há 98 anos. Inaugurada no dia 2 de fevereiro de 1914, com Argilio Malatesta como pároco, a San Gennaro possui uma fachada modesta, mas com um interior suntuoso e acolhedor. No altar doado pela família Crespi em 1933 destaca-se a imagem de San Gennaro. No início da década de 70, o padre Esvegio Consilio precisava de recursos para arrumar o telhado, pois chovia muito dentro da igreja, então criou a Festa de San Gennaro, comemorada sempre no dia 19 de setembro, data da morte de San Gennaro, que anos depois veio se tornar uma das mais tradicionais festas da cidade. Hoje o evento está na sua 39ª edição e conta com boa infraestrutura, salão para show de música italiana e as ruas San Gennaro e Lins estão prestes a ganharem cobertura especial. A previsão da organização é que este ano cerca de 180 mil pessoas passem pelo local nos cinco finais de semana de festejos.
Escuderia Pepe Legal
Criada em 1966 por um grupo de jovens moradores da Mooca, a Escuderia Pepe Legal tornou-se um dos maiores movimentos sociais do bairro. Na época, a rede Record promovia gincanas com metas sociais, como doações de sangue, arrecadação de agasalhos e alimentos, entre outras. Em 12 participações a Pepe Legal venceu oito gincanas, mostrando o poder de organização e de espírito social. Mesmo com o fim da realização do evento, a escuderia manteve-se viva, mas menos ativa. Na década de 80, após a realização de um torneio de futebol no Clube Atlético Parque da Mooca, o grupo foi reacendido e novas ações começaram a ser desenvolvidas. “Na época ocorreu um grande enchente na região sul e com nossa mobilização conseguimos arrecadar oito caminhões de roupas para ajudar os necessitados. Foi ai que nossa chama foi reacendida”, contou Aníbal Correa, o Babu, integrante desde sua fundação. Anos depois foi criada a Associação Esportiva, Cultural Pepe Legal, que passou a realizar eventos com cunho social. “Organizamos encontros de carros antigos, shows musicais, entre outros eventos, sempre com o intuito de arrecadações para ajudar quem precisa”, completou Babu.
Universidade São Judas Tadeu
Instalada há 41 anos na Mooca, a Universidade, que fica na rua Taquari, 546, começou em 1971 com uma singela faculdade, com os cursos de Administração e Ciências Contábeis. Um ano depois, iniciaram-se os cursos de Letras e Matemática. Somente em 1989 a Universidade foi oficialmente reconhecida pela portaria ministerial. Hoje a instituição conta com 30 cursos de graduação. A criação da Universidade é fruto da batalha do casal de professores Alberto Mesquita de Camargo e Alzira Altenfelder Silva Mesquita, que em 1947 fundaram na rua Wandenkolk o Complexo Educacional São Judas Tadeu, com o curso de admissão aos ginásios do Estado. Depois de alguns anos surgiu o Colégio São Judas Tadeu. Hoje o Complexo Educacional conta com ensinos infantil, fundamental, médio e profissionalizante e a educação superior.
Escola Mooca
A unidade de ensino mais antiga da Mooca é a Escola Estadual da Mooca, localizada na esquina da rua da Mooca com a rua Itapira. O grupo escolar foi criado por decreto em 26 de setembro de 1905 e instalado em 25 de setembro de 1906. No ano de 1908 a unidade já contava com 405 alunos e após cinco anos possuía 1.088 estudantes. Em 1978, de acordo com uma resolução, a escola, então denominada Escola Estadual de Primeiro Grau Eduardo Carlos Pereira, passou a integrar a Escola Estadual de Primeiro Grau Antonio Firmino de Proença, pois o imóvel havia sido reformado e estruturado para receber mais alunos. No processo de reorganização da rede estadual paulista, em 1996, após decreto de 10 de maio, a escola teve separada suas classes de 1ª a 4ª série do ensino fundamental, originando a Escola Estadual da Mooca, que funciona no mesmo local de sua fundação.
EU AMO A MOOCA JA MOREI MUITOS ANOS NESSE BAIRRO E NAO TENHO QUE FALAR, EXCELENTE LUGAR PRA MORAR, PARABENS MOOCA LINDA E CHEIA DE CHARME.
Adorei a homenagem a minha querida Mooca!!! Parabéns Folha VP.
gostaria que fosse reportada uma matéria sobre a ESCOLA TECNICA DE AVIAÇÃO , que teve suas instalações na antiga HOSPEDARIA DO IMIGRANTE , atual MEMORIAL . Teve mudança efetiva para Guaratinguetá
grato , marcos .