Após participar de plenária com a militância da região da Vila Prudente no sábado passado, dia 29, o ministro da Educação, Fernando Haddad, conversou com a Folha sobre a possibilidade de ser o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo no ano que vem. A necessidade de apresentar ao eleitorado um quadro novo é a principal justificativa de Haddad, que conta com total apoio do ex-presidente Lula. No entanto, mesmo sendo o escolhido de Lula, o ministro pode enfrentar as prévias do partido, inicialmente marcadas para o próximo dia 27, com outros quatro postulantes. Até ontem, um deles era a senadora e ex-prefeita Marta Suplicy, mas como ela anunciou que desistiu de concorrer às eleições municipais, a expectativa agora é se os demais candidatos (Eduardo Suplicy, Carlos Zarattini e Jilmar Tatto) farão o mesmo e Haddad será consolidado como candidato oficial.
Haddad nega que a disputa interna seja prejudicial ao partido e ainda ressalta vantagem nesse processo de prévia. Ele explicou que nos últimos três meses manteve rotina de sucessivos encontros com filiados do PT, com e sem mandato. “A prévia nos estimula a ter contato com a militância que é quem realmente está nas ruas e pode nos passar as necessidades de cada região, o que ajuda na elaboração de um plano de governo”, argumenta. Mesmo antes desta reviravolta com a saída de Marta Suplicy da disputa, Haddad já demonstrava confiança no resultado.
O ministro defende que a cidade de São Paulo não está sendo totalmente beneficiada pelo bom cenário econômico do país e ataca ainda que “o improviso tem sido a marca” destas últimas gestões. “Um exemplo foi o anunciado monotrilho ligando o aeroporto de Congonhas ao Morumbi, pressupondo que lá seria o estádio da Copa (de 2014)”, comenta Haddad. “Apesar do orçamento de São Paulo ter triplicado nos últimos anos, a vida do paulistano só melhorou da porta de casa para dentro, pois fora continua enfrentando os mesmos problemas de transporte público, trânsito, enchentes, etc”, completa.
“O país mudou. Até pouco tempo atrás, o jovem não concluía o ensino médio, agora a preocupação é garantir o acesso ao ensino profissionalizante ou superior. Por isso, temos que nos preparar para um futuro econômico que ainda desconhecemos”, ressalta Haddad sobre a necessidade de administrar com planejamento. “Essa mudança traz consigo outras necessidades, como cultura, mobilidade, meio ambiente e sustentabilidade. E até hoje não existe um Plano Diretor de arborização, por exemplo”.
Indagado tanto na plenária com a militância como na entrevista, ambas ocorridas no Círculo de Trabalhadores Cristãos de Vila Prudente, sobre mais um problema envolvendo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o terceiro consecutivo em três anos, o ministro da Educação alegou que se trata de ação delituosa de uma das cerca de 500 mil pessoas envolvidas no processo (neste ano, a suspeita recai sobre um professor de Fortaleza, Ceará). Ele lembrou que no episódio de 2009 (vazamento da prova) o responsável já foi condenado a cinco anos de prisão. “Quanto à necessidade do Enem, não há como contestá-la. Só no Brasil não havia um exame desta natureza, todos os demais países da Europa e os Estados Unidos aplicam este teste e também enfrentam problemas semelhantes aos que estão ocorrendo aqui. Trata-se de sabotagem para favorecimento próprio como, por exemplo, tentar aumentar a média de determinado colégio”, comenta.
Haddad não teme que o atual cenário do Ministério das Esplanadas (em 11 meses de governo de Dilma Rousseff, seis ministros já foram demitidos ou pediram para sair pressionados por sucessivas acusações) respingue sobre sua eventual candidatura. “Estou há seis anos e meio à frente da Educação e servi a dois presidentes. Essa continuidade é um recorde na pasta, que antes tinha média de permanência de um ano a um ano e meio. Ou seja, estou no cargo, pelo menos, quatro vezes mais tempo que os meus antecessores”, ressalta.
Se concretizado o objetivo de se eleger prefeito, pretende aplicar essa continuidade
Da teoria para a prática, o discurso é sempre o mesmo.