Comerciantes se mobilizam contra ciclovia na avenida Zelina

Em audiência pública ocorrida no último dia 18, no Círculo de Trabalhadores Cristãos de Vila Prudente, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) apresentou proposta de implantar uma ciclofaixa ao longo da avenida Zelina. O anunciou causou surpresa, polêmica e esquentou a discussão na reunião. Desde então, comerciantes instalados na avenida estão se mobilizando para tentar barrar o projeto. De acordo com eles, em três dias conseguiram cerca de 2.500 adesões a um abaixo-assinado contrário à ideia da CET. O documento foi entregue à vereadora Edir Sales (PSD), que também se posicionou contra o projeto do governo municipal e se comprometeu a entregar as assinaturas ao secretário municipal de Mobilidade e Transportes, Sergio Avelleda.

De acordo com o comerciante Edson Daniel, estabelecido na avenida Zelina há 55 anos e um dos líderes da mobilização, a estrutura da via não suporta o projeto apresentado pela CET. “Sem a existência da ciclovia o trânsito já é estrangulado, há trechos que os veículos e ônibus precisam reduzir, quase parar, para o outro passar. Se colocarem uma faixa para ciclistas como foi apresentada, não haverá espaço para o tráfego. Embora tenham garantido que as vagas de estacionamento não serão extintas, temos a impressão que será muito difícil parar na avenida e, com isso, os clientes deixarão de frequentar os comércios, que serão prejudicados”, comentou Daniel. “Já existe uma ciclovia na rua Professor Gustavo Pires de Andrade, que é paralela à avenida Zelina e é pouca utilizada. Não entendemos a intenção de fazer outra”, completou.

O também comerciante José Estevam Breviglieri acredita que a faixa para ciclistas pode gerar ainda mais insegurança viária e aumentar os acidentes. “Algumas linhas de ônibus que atendem a região tem veículos biarticulados que para passarem em alguns trechos, quase sobem nas calçadas por falta de espaço viário. Como ficará esse tráfego com uma ciclovia? O ciclista estará em perigo. Se a CET trouxer uma ciclovia para esta avenida, estará colocando em risco a vida de muitas pessoas. Não somos contra ciclovias, pelo contrário. Apoiamos o uso de bicicletas e os ciclistas são muito bem vindos aos nossos comércios, mas uma ciclovia na avenida Zelina é totalmente inviável”, declarou.

Para a vereadora Edir Sales, da região, que após se posicionar publicamente contra a ciclovia nesta semana foi alvo de muitas críticas por parte dos ciclistas em sua página no Facebook, a implantação da faixa para bicicletas na avenida pode trazer impactos irreversíveis para o bairro. “Estamos promovendo debates sobre a questão, na qual os moradores e comerciantes têm se manifestado em peso. No caso da avenida Zelina temos um abaixo assinado com aproximadamente 3.000 assinaturas, o que comprova o descontentamento dessas pessoas. Os ciclistas, por sua vez, defendem a possibilidade de ter uma faixa, sem olhar os riscos que ela pode trazer, inclusive para eles mesmos, com a passagem de ônibus, caminhões e a constante interferência dos carros para o acesso ao comércio local”, declarou a vereadora. (Gerson Rodrigues)

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Usuários de bicicletas ouvidos pela Folha nesta semana criticam o que chamam de “achismos” de quem nunca pedalou, mas se acha no direito de criticar um projeto desenvolvido por técnicos da CET.

“Não adianta quererem empurrar uma ciclovia para onde não transitam pedestres e nem carros, então por que vai passar um ciclista nessa rua?”, questiona o fotógrafo Daniel Dacol, que mora na Vila Zelina há 36 anos. “Do mesmo jeito que o motorista pega o seu veículo para ir à padaria, farmácia, mercado; o ciclista tem o mesmo direito de fazer isso com a sua bicicleta. Não entendo de onde tiraram a ideia de que o comércio vai perder clientes, pelo contrário, se os comerciantes se mostrarem dispostos a receber os ciclistas, instalando paraciclos inclusive, vão estimular as vendas. Da forma como estão se posicionando hoje, só vão afastar”, defende.

Dacol ressalta ainda que a avenida Zelina já sofre há tempos com a falta de vagas para estacionar. “A ciclovia não vai tirar uma coisa que já não existe. Um ciclista terá mais facilidade para parar do que um motorista de veículo”, argumenta.

O usuário diário de bicicleta, Leandro Bazito, morador da Vila Zelina há 43 anos e que sai do bairro pedalando para chegar ao trabalho em Campos Elíseos, também acredita que a proposta da CET é viável. “Participei da audiência ocorrida na semana passada e depois de conhecer o projeto, pedalei de ponta a ponta da avenida Zelina. Gastei sete minutos no sentido Ibitirama/Jardim Avelino e seis minutos na direção inversa, num ritmo bem tranquilo. Não é exageradamente íngreme como estão alegando”, ressalta.

Sobre a proposta de ciclofaixa entre os carros estacionados e a calçada, Bazito destaca que já pedalou em uma ciclovia assim na avenida Rangel Pestana, no Brás, e o modelo funciona. “Há dois anos, pedalo diariamente para ir ao trabalho, à fisioterapia, fazer compras e como lazer aos finais de semana. Neste período, só escorreguei uma vez por causa de areia na ciclovia e precisei me jogar da bicicleta em outra ocasião porque um pedestre entrou na faixa sem olhar. Nas duas vezes, só tive arranhões”, conta. “As pessoas precisam parar com os achismos de que é não é viável, de que é perigoso e deixar os técnicos da CET decidirem o que é certo ou não”, comenta. (Kátia Leite)

Daniel Dacol defende que os ciclistas também são clientes do comércio

 

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