Uma observação tem sido enfática por parte dos paulistanos: a maior metrópole do país está submetida ao desleixo. Suja, esburacada, pichada e desamparada nos serviços básicos. São Paulo está sem bússola e sem comando. A cidade tem se tornado uma terra caótica. Pessoas morrerem sob o intenso frio, jovens definham nas calçadas das cracolândias, mulheres esmolam nas ruas, idosos padecem nas portas de prontos-socorros municipais.
No momento em que a cidade vê piorar drasticamente sua qualidade de vida, vale lembrar figuras que deixaram sua marca na administração pública, como Prestes Maia, na Prefeitura de São Paulo, ou Franco Montoro, no governo do Estado. A lembrança sobre Montoro é muito viva nesse momento em que se instala o evento de comemoração dos 100 anos de seu nascimento. Democrata, faz muita falta nesses tempos de crise moral, símbolo que era da ética na política.
Para Franco Montoro, a quem tive a alegria de ajudar, nas suas eleições de 78 (Senado), 82 (Governo de SP) e depois na memorável campanha das Diretas-Já, em 1984, a política se constituía na missão de compor a ordem pública, assegurar a convivência social e o respeito pelo ser humano. Montoro foi um homem público exemplar.
André Franco Montoro, fundador do PSDB, encabeça a lista dos políticos mais importantes da história do Brasil. De vereador a deputados, de senador a governador, passando por vários mandatos, Montoro aliou a habilidade política à competência e transparência. Será sempre lembrado, especialmente também, pelos expressivos avanços na área social.
Importante recordar que Montoro se impôs pela dignidade em cargos públicos. Promoveu um desenvolvimento acelerado e inusitado na história do Estado de São Paulo, depois do longo período de trevas da ditadura militar no País. Sua obra se sustentou em dois princípios fundamentais para a boa governança – descentralização e participação.
Dizia ele que o sentimento de participação é um dos mais poderosos elementos propulsores da atividade humana, pois é o que entusiasma e anima a ação dos construtores de uma obra coletiva, seja ela uma casa, uma estrada, uma catedral ou uma cidade mais humana.
No campo político, a descentralização e a participação dos diversos setores da comunidade na solução dos problemas coletivos representam grandes instrumentos para a constituição de uma sociedade mais justa, mais eficiente e mais humana.
Montoro acreditava que a construção de uma democracia participativa no Brasil não será feita por um homem ou por um grupo de homens e, nem mesmo, por um partido político. Era uma tarefa de todos e uma ferramenta de luta participativa e comunitária.
O outro pilar construído por Franco Montoro foi o da descentralização. Seu argumento para justificá-lo é irrefutável: tudo o que puder ser feito pelo poder local não deve ser feito pelo Estado ou pela União. Descentralização é fator de economia e de autêntico desenvolvimento do País. Essa era, para ele, uma imposição, uma tomada de consciência.
A descentralização – inserida na tese do municipalismo impõe-se como instrumento imprescindível para a promoção do bem comum, assegurando políticas públicas que garantam poderes e recursos aos órgãos mais próximos da população, especialmente os municípios e os Estados.
A luta do governador Montoro deve receber o incentivo de todos os homens públicos que espelham sua ação, o ideal da coletividade. Montoro era um fiel defensor do municipalismo. A aplicação de suas lições é absolutamente necessária ante as injustiças que se cometem no país, seja na repartição dos recursos entre os entes federais, estaduais e municipais, seja nos desmandos que se multiplicam na administração dos entes federativos.
O fato é que os municípios vivem a pior crise financeira da história e muitos estão praticamente falidos. Dependem unicamente do Fundo de Participação dos Municípios, que vem minguando em função de políticas que reservam a maior parte da arrecadação aos cofres da União. Como foram mal geridos, a conta amarga fica com o primeiro andar do edifício político, formado pelas municipalidades.
São Paulo, maior arrecadador de impostos do País, deve impor sua liderança e passar a exigir uma justa distribuição de recursos.
Franco Montoro volta a se fazer presente, entre nós, por ocasião de seu centenário. Que suas ideias sirvam de lume para ajudar a recolocar nossa querida São Paulo na trilha do desenvolvimento.
*João Doria é jornalista, empresário e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB.