O presidente interino Michel Temer assume um País com graves problemas na economia e praticamente em todas as áreas da administração pública federal.
A desorganização da economia resulta do intervencionismo que caracterizou o governo nos últimos anos, gerando um completo descontrole fiscal, com enorme rombo nas contas públicas, crescimento dos gastos correntes e aumento da dívida interna. Com isso, vieram a queda da atividade econômica, o avanço da inflação e o dramático quadro de desemprego, atingindo mais de dez milhões de trabalhadores, sem perspectivas de recolocação.
As empresas estatais têm grandes dificuldades financeiras e alto endividamento, resultante de controles de preços e tarifas, mudanças em contratos, má gestão e, em alguns casos, comprovados casos de corrupção.
Os investimentos são insuficientes para a manutenção da infraestrutura e os serviços públicos deterioram. A saúde pública, por exemplo, é incapaz de atender às necessidades mínimas da população.
Os desafios só serão vencidos se o novo presidente receber apoio da classe política e da sociedade, cuja atuação nos últimos meses mostrou o desejo, da população, de participar.
A população foi, em grande parte, responsável pelo andamento do processo de impeachment e deixou claro seu posicionamento em favor da ética nos negócios públicos, da meritocracia, de transparência nos atos governamentais e do combate rigoroso da corrupção, com punição exemplar dos culpados.
O Congresso terá que aprovar medidas indispensáveis para equacionar as finanças e melhorar a eficiência. Suas decisões precisam ser pautadas pelos interesses da população e não por conveniências pessoais ou partidárias. A oposição deverá desempenhar seu papel fiscalizador, mas sem impedir o governo de governar.
A radicalização vista nos últimos meses precisa dar lugar ao diálogo construtivo e ao respeito mútuo. Os governos federal e estaduais precisam se preparar para enfrentar ações de grupos que querem impor opiniões e interesses por meio de invasões de propriedades e bloqueios de rodovias, tumultuando a vida da população das cidades, com paralisações do trânsito em locais e horários de maior movimento. É preciso preservar o direito de manifestações, mas elas precisam ficar dentro dos limites do respeito aos direitos de propriedade e de locomoção das pessoas.
Apesar do quadro de dificuldades, há esperança. Temer já sinalizou com o caminho da austeridade – ao propor a redução do número de ministérios – e da racionalidade da política econômica, escolhendo pessoas com experiência e competência para comporem a equipe que cuidará da economia. O presidente interino precisa começar trabalhando pela redução da burocracia tributária e trabalhista.
Esse caminho permitirá restaurar a confiança dos empresários, destravando os investimentos, e dos consumidores, na medida em que vislumbrem a melhora da economia. Os problemas não serão resolvidos num passe de mágica, mas à medida em que forem equacionados permitirão que os agentes econômicos se antecipem à melhora efetiva da economia, contribuindo para que a reativação possa ser observada mais rapidamente.
Caberá aos empresários fazer a economia voltar a funcionar, rompendo a inércia produzida pelas medidas equivocadas do passado e pela incerteza paralisante. Em diversas oportunidades, o Brasil mostrou grande capacidade de reação. E temos certeza de que, mais uma vez, o País superará a crise antes do que muitos imaginam.
* Alencar Burti, 85 anos, é presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp).