Em diversos países encontramos exemplos bem sucedidos de bairros com armazéns e fábricas subutilizados que passaram por um processo de requalificação para abrigar uma nova forma de desenvolvimento econômico, capaz de gerar novos empregos, impedir a degradação e valorizar a região.
Segundo dados do Ministério do Turismo, São Paulo – cidade que mais recebe turistas no país – (em torno de 11,7 milhões por ano), também é a cidade que registra cerca de 33 mil reclamações de estabelecimentos por conta de ruídos, ocasionando o encerramento de 400 atividades por ano. Esses dados demonstram um claro conflito entre o uso residencial e as atividades noturnas como bares, casas de shows, “baladas”, buffets, entre outras.
Por que não utilizamos ideias já consagradas e fomentamos a concentração de atividades de lazer, com conforto para os frequentadores, respeitando, dessa maneira, a tranquilidade dos moradores?
Uma das únicas regiões para abrigar tal projeto seria no entorno da Avenida Henry Ford, na confluência dos bairros da Mooca, Vila Prudente e Ipiranga, na divisa com a linha férrea. Nesse local, onde o zoneamento é predominantemente industrial, os galpões antigos poderiam – em parceria com os proprietários – ser transformados em danceterias, hotéis, estúdios de arte, complexos culturais e parques, sem prejudicar o sossego público. Outro ponto importante é o fácil acesso ao local para quem está no centro da metrópole, região sul, sudeste ou leste.
A região também possui um terreno que limita a área do parque industrial com a região de uso residencial. Trata-se do terreno da antiga Esso, que, com quase 100.000 m², possui o tamanho do parque do Piqueri. Para compensar a os danos ambientais causados na vizinhança e a aridez da região, essa extensa área poderia ser transformada em um grande e importante “pulmão-verde” para a cidade, diminuindo os efeitos da ilha de calor.
Com a oportunidade de discutir a Operação Urbana Bairros do Tamanduateí, que prevê arrecadar mais de R$ 5,6 bilhões em direito de construção na região, proponho que se priorize o projeto do parque, além das importantes melhorias no viário e drenagem.
]Com estacionamentos adequados, inclusive para ônibus, que se conectam aos hotéis da cidade; maior tolerância para ruídos; projetos específicos de indicativos comerciais, com regras diferenciadas do restante da cidade, sugiro pensar, ainda, no aproveitamento dos ramais férreos, já instalados e que cortam toda a área industrial para a circulação de trem turístico.
A “Broadway Paulistana” é uma solução ao problema da proliferação de estabelecimentos que causam transtornos à população em áreas com vocação residencial, melhorando a qualidade de vida. Mais do que isso: São Paulo teria um paraíso da economia criativa com espaços planejados para a diversão e cultura, para paulistanos, turistas do Brasil e do mundo. Onde o estímulo à criação pode gerar ícones urbanos e arquitetônicos, fomentando novos marcos na paisagem urbana e muitos empregos.
Diversos países trabalham e investem para aproveitar melhor o potencial turístico que possuem, e São Paulo – como cidade cosmopolita e criativa que é – não pode perder essa oportunidade de se consolidar como uma cidade do turismo internacional.
Mesmo com uma tímida proposta de operação urbana apresentada pelo prefeito de São Paulo no sentido de criar áreas públicas e espaços verdes e, em contrapartida, ser altamente agressiva em construir novos prédios e beneficiar o mercado imobiliário, creio que podemos lutar pela cidade que queremos!
* Eduardo Odloak, 43 anos, é formado em Administração pela FCU e especialização em estratégias de Marketing aplicadas ao Turismo e Hotelaria – ECA-USP. Foi Subprefeito da Mooca.