Venho há algum tempo me preocupando com o problema da água na cidade de São Paulo, mas um fato curioso chamou-me a atenção: o editorial da Folha de Vila Prudente com o título “A novela do monotrilho” (5 de dezembro) não só pelo atraso da obra, mas pela profundidade com que o assunto foi tratado, quando se referiu ao Córrego da Mooca que fica abaixo da Avenida Anhaia Mello e que sua existência parecia do desconhecimento dos responsáveis pela obra. Talvez, tenham apenas subdimensionado a força que o homem precisa para destruir um córrego.
O anonimato dos nossos córregos leva a população ao esquecimento da sua existência e da sua importância, os debates acontecem apenas sobre os projetos instalados sobre o asfalto: onde instalar uma ciclovia, uma faixa de ônibus, um monotrilho ou onde colocar mais um radar. Os córregos são lembrados quando atrapalham a construção e sempre no verão, quando suplantam o descaso com que são tratados e invadem ruas e avenidas criando um novo curso d’água sobre o asfalto a procura do leito de um rio para desaguar, castigando uma população que paradoxalmente, sofre de falta de água em suas torneiras.
Eu me pergunto: até quando a existência de mais de 300 córregos e rios com mais de 1.500 Km de extensão existentes na cidade de São Paulo serão ignorados e escondidos por uma camada de asfalto ou de concreto? Sabemos que a disponibilidade da água por habitante vem se reduzindo a cada década. O crescimento populacional e industrial das últimas décadas vem comprometendo as águas dos nossos rios, córregos, lagos e reservatórios, sendo progressivamente poluídas pelo lançamento de esgotos domésticos, industriais, agrotóxicos e resíduos sólidos urbanos.
A preocupação na recuperação de rios poluídos vem ocorrendo há algumas décadas pelo mundo e em alguns casos não apenas revertendo, mas incorporando-os ao convívio com a população. Citarei alguns rios que foram recuperados cujo custo/benefício para a sua recuperação torna-se difícil de ser calculado pelo bem que trará a sociedade ao longo dos tempos.
Veja alguns exemplos: o Rio Cheonggyecheon, em Seul na Coréia do Sul, revitalizado em apenas quatro anos. O seu renascimento surgiu da implosão de um enorme viaduto que ficava sobre o rio criando em decorrência, um grande projeto de transporte público. O Han, também na Coréia do Sul, foi outro rio que passou pelo mesmo processo em seus 514 km de extensão. O Rio Tejo, Lisboa, maior rio da Europa ocidental, foi revitalizado em apenas quatro anos. Também foram recuperados o Sena, em Paris, degradado por conta da poluição industrial e o recebimento de esgoto doméstico e o Reno com extensão de 1,3 mil km, nasce nos Alpes Suíços passando por seis países europeus, e que era conhecido como a cloaca a céu aberto.
Conscientizar a sociedade para uma educação ambiental é fundamental e imprescindível. Agora, culpar exclusivamente a sociedade pelo desperdício é colocar todo o peso da responsabilidade em um único ombro. Não foi o povo que aterrou rios e córregos ou os transformou em valas de esgotos.
Estou propondo um projeto para que onde houver na cidade de São Paulo a existência de uma nascente, um rio ou de um córrego abaixo de uma rua ou avenida seja colocada sua identificação com os seguintes dizeres: “ABAIXO DESTA AVENIDA EXISTE UM CÓRREGO”, citando seu nome. Irei também propor o tombamento das nascentes da cidade, adequando-as a projetos urbanísticos.
Acredito que com esta identificação poderemos fundamentar e despertar na população uma educação ambiental mais concreta, não apenas a do desperdício e do lixo jogado na rua, mas uma resposta do porquê das torneiras vazias, o porquê das inundações e das invasões das águas em suas casas, para que ela possa cobrar dos atuais e futuros governantes, efetivas propostas para este mal que se arrasta há décadas, sem culpar a natureza por chover muito quando inunda ou pela seca quando chove pouco.
* Atílio Francisco é vereador em São Paulo pelo PRB e autor do Projeto de Lei Tarifa Zero para Estudantes/2012, aprovado pelo prefeito.