Anos atrás a Mooca era um bairro tipicamente operário, com muitas fábricas e seus imensos galpões. As casas eram habitadas por muitos imigrantes, principalmente italianos, mas o número de espanhóis também foi representante. O comércio era bastante restrito, com destaque para os antigos armazéns de secos e molhados. Hoje, às vésperas de completar 455 anos na próxima quarta-feira, dia 17, a Mooca tem um novo perfil. As grandes construtoras enxergaram na região uma ‘mina de ouro’ para o ramo imobiliário e os empresários também investiram em lojas, restaurantes, bares e outros serviços.
Um exemplo da transformação na Mooca é a rua Borges de Figueiredo, na esquina com a rua Guaratinguetá. O ponto abrigou por anos a fábrica do Açúcar União e atualmente recebe as obras de cinco torres residenciais que somarão 287 apartamentos. A única lembrança do passado é a chaminé que se tornou um patrimônio da cidade ao ser tombada pelo Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), em agosto de 2010. Pesquisas do mercado imobiliário apontam que a Mooca é a região que foi mais explorada pelas incorporadoras no ano passado, somando 1,1 bilhão de reais em novos imóveis.
Com a grande oferta de moradias, a população da Mooca vem aumentando consideravelmente e os habitantes antigos e enraizados – que nunca cogitaram morar em outra região – passam a dividir espaço com um novo grupo, marcado por um público mais jovens.
Um desses novos jovens moradores é o empresário e jornalista Renato Corona, 29 anos, que após se casar no mês passado, trocou o Jardim Avelino pela Mooca. “Sempre fui um grande frequentador do bairro, mesmo antes de morar aqui. Fiz minha faculdade aqui, minha primeira experiência profissional também foi aqui e o meu time é daqui!”, comenta Corona que é torcedor do Juventus. “Escolher a Mooca foi a união da história e da representatividade para São Paulo com a facilidade de estar próximo do centro e de grandes avenidas, que me levam para diversos pontos da cidade”, justifica. Para Corona, a transformação do bairro tem dois aspectos a serem ressaltados. “A primeira é a desorganização dessa mudança, o que faz com que os serviços básicos e públicos, assim como o trânsito, não acompanhem a evolução e o aumento da população. Já por outro lado, essa mudança trouxe mais vida a um bairro que estava ficando ‘velho’, e em alguns pontos até abandonado e perigoso”, acredita.
Outra jovem que optou pela Mooca é a administradora Daniela Bartachini, 30 anos. O conceito familiar do bairro e a proximidade do centro da cidade pesaram na escolha. “Com a vida corrida que levamos, morar próximo de importantes avenidas é um grande diferencial. Além disso, como sou do ramo imobiliário, percebi que a Mooca está bastante valorizada. Isso será muito bom em um futuro próximo”, comenta.
Bastante conhecido dos mooquenses, Eduardo Odloak, que já foi subprefeito da região, nasceu, cresceu e vive no bairro. É da turma que não troca a Mooca por nenhum outro lugar. “A Mooca trilha o caminho do desenvolvimento, com uma transformação muito forte e intensa, o que pode torná-la o bairro do futuro. Mas para isso é necessário planejamento. A comunidade deve ficar atenta e participar das discussões”, ressalta. Odloak também destaca o crescimento demográfico do bairro: “Há alguns anos estive na festa da paróquia São Rafael e presenciei uma quermesse pequena. Neste ano, o público triplicou. Pessoas novas passaram a freqüentá-la. A festa é um reflexo do aumento da população”, completa.
A família do aposentado Antonio Castanho, 71 anos, esta instalada na Mooca desde 1888. Ele reside na charmosa rua Virgílio de Freitas, que fica atrás do Largo São Rafael, e enxerga positivamente a transformação do bairro, desde que seja acompanhada de organização. “A Mooca estava parada e agora, começou a acompanhar a evolução humana, o que ninguém pode frear. Sou a favor do crescimento desde que respeitem os valores históricos e tenha planejamento. Não acho que certos locais tenham que ser tombados e nunca mais mexidos, o que acaba criando um problema, mas sim que as construções respeitem a nossa história, como aconteceu no Cotonifício Crespi, onde foi construído um hipermercado preservando a fachada do prédio”, comenta.
O também aposentado João Dantas dos Santos, 75 anos, que mora na rua Borges de Figueiredo há mais de 50 anos, onde ainda existem vários galpões, aprova o processo de mudança. “Antigamente a Mooca tinha apenas fábricas, algumas casas e muito mato. Hoje se modernizou e vem ganhando outro perfil, o que acaba melhorando o comércio e a rede de serviços”, opina.
Na contramão do desenvolvimento do bairro surgem muitas críticas relacionadas à destruição do patrimônio histórico, sobrecarga no saneamento básico e na mobilidade urbana, entre outras. O que todos esperam é que estudos e projetos sejam criados para que essa transformação não venha a ser um problema sem solução em um futuro próximo.
Moro na mooca há 30 anos, de fato cresceu muito nesses anos, a dinâmica do bairro mudou um pouco com o crescimento, mas continua acolhedor.